Revista Inovação FAPEMA

Estudo pioneiro detecta perfil de bactéria causadora de infecção urinária

Estudo foi pioneiro no Brasil na identificação da toxina codificada por plasmídeo pet, sendo o primeiro, no mundo, a detectar esse gene em amostras de E. coli uropatogênica

A constante evolução e adaptação dos microrganismos têm se tornado um problema com variantes mais virulentas e microrganismos resistentes.

Lorena Gonçalves Araújo

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestra em Biologia Microbiana pela Universidade Ceuma.  Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).  É colaboradora do Laboratório de Patogenicidade Microbiana (LAPMIC) e integra o Grupo de estudos de Patogenicidade Microbiana (GEPAT).

A infecção do trato urinário ocorre quando um microrganismo patogênico coloniza órgãos como rins, bexiga e uretra, causando danos ao hospedeiro. A fim de compreender melhor os mecanismos de virulência que são essenciais para a evolução da infecção do trato urinário, a doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Lorena Gonçalves Araújo realizou, como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), estudo com o objetivo de caracterizar amostra clínica da bactéria E. coli de forma pioneira no Brasil. A pesquisa foi fomentada pela Fundação por meio do edital Universal n° 19/19, durante o desenvolvimento do curso de mestrado de Lorena.

O trabalho foi vencedor do Prêmio Fapema 2021 – Mulheres Cientistas do Maranhão: Ana Angélica Macêdo, Luciane Brito e Zafira de Almeida na categoria dissertação de mestrado, na área de ciências biológicas. O estudo, realizado entre abril de 2019 e abril de 2021, no Laboratório de Patogenicidade Microbiana (da Universidade Ceuma), está, no momento, em processo de publicação.

Segundo a pesquisadora, a constante evolução e adaptação dos microrganismos têm se tornado um problema emergente e isso ocorre pela dificuldade no tratamento, introdução de novas variantes mais virulentas e disseminação de microrganismos resistentes.

“Decidimos, a princípio, avaliar o perfil de virulência de amostras isoladas de infecção do trato urinário no Maranhão, no entanto, nos deparamos com uma amostra que apresentou uma serinoprotease (enzima capaz de clivar proteínas) denominada Pet (plasmid-encoded toxin) ou toxina codificada por plasmídeo, que ainda não havia sido descrita nessas infecções no Brasil”, explicou. “Será a primeira em que ela será descrita em infecção do trato urinário até o presente momento”, pontuou. “Esse diferencial fez com que a amostra se tornasse o alvo do estudo. “Realizamos, então, uma caracterização molecular de diversos fatores de virulência e fenotípica para analisar os fatores de virulência expressos, uma vez que possuir um gene não é garantia de expressá-lo”, completou. 

Metodologia 

Lorena Araújo relatou que, para desenvolver o estudo, foi necessário realizar coletas das amostras de paciente com infecção urinária no período de setembro a novembro de 2019 em um laboratório de referência na cidade de São Luís que recebe amostras de 30 municípios de todo o Maranhão. “Isolamos as bactérias, identificamos as amostras, fizemos o teste de susceptibilidade aos antimicrobianos, reativamos as amostras e preparamos o estoque”, explicou. “Fizemos, também, a extração de DNA, da reação em cadeia da polimerase (PCR) e eletroforese em gel de agarose, do ensaio de formação de biofilme com cristal violeta e da curva de crescimento bacteriano”, informou. Houve, ainda, a obtenção do concentrado proteico, o cultivo celular, a adesão celular, análise de citotoxicidade, curva de sobrevida e procedimentos estatísticos.

 Benefícios e resultados obtidos

Para a pesquisadora, o estudo é importante por retratar uma realidade preocupante na saúde e, a partir dele, é possível realizar inferências como a situação da resistência aos antimicrobianos no Maranhão. “É possível prever que outras bactérias já sejam portadoras do gene pet, uma vez que a amostra utilizada nesse estudo pode ter transferido suas informações por meio da transferência horizontal de genes e disseminação clonal”, afirmou a pesquisadora. “Portanto, as informações contidas nesse trabalho também direcionam a conduta médica tornando-a mais rápida e eficaz”, citou Lorena Araújo.

“Nosso estudo foi pioneiro na identificação da toxina codificada por plasmídeo pet em infecção do trato urinário no Brasil, sendo o primeiro, no mundo, a detectar esse gene em amostras de E. coli uropatogênica”, ressaltou.  “Além da identificação, conseguimos realizar caracterização fenotípica e molecular de uma da amostra nº 67, tornando este artigo relevante, por relacionar pet em Escherichia coli Uropatogênica a diversos outros fatores de virulência”, complementou.

Segundo a pesquisadora, a amostra ITU67 demonstrou que a resistência apresentada também é realidade em outros locais. “A amostra possui bastante potencial de virulência além da sua capacidade molecular e fenotípica que permite acentuação da patogenicidade inerente a E. coli”, prosseguiu. “Ela apresentou capacidade de produção de biofilme, genes de virulência SPATEs (autotransportadores de serina protease de Enterobacteriaceae), padrão fenotípico agregativo, toxicidade em células HEp-2 e em Tenebrio molitor (larva-da-farinha)”, complementou.

As células Hep-2 são um dos substratos mais comuns utilizados, em laboratório, por pesquisadores para detecção de anticorpos antinucleares por imunofluorescência. Elas são derivadas de de carcinoma de laringe humana. 

Lorena Araújo destacou o apoio da FAPEMA ao auxiliar a realização da parte prática da pesquisa, financiando a compra de materiais, reagentes e equipamentos de laboratório. “A Fapema promove a ciência e melhora, consequentemente, diversas áreas como saúde, educação e tecnologia, o que reflete na melhoria da qualidade de vida das pessoas”, avaliou. “A Fapema não se restringe em seu um órgão de fomento, mas um incentivador para o desenvolvimento socioeconômico e cultural do Maranhão”, concluiu.

Um comentário

  1. Francisco Neto

    Descoberta de importante valia para sociedade, em especial o nosso Maranhão e comunidade científica. Parabéns a todos os envolvidos!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *