Revista Inovação FAPEMA

Pesquisa aponta métodos de caracterização do fungo Fusarium e suas implicações nos hospedeiros

O trabalho se propõe a obter o conhecimento do patrimônio genético desses microrganismos

Plantas de Coentro (Coriandrum sativum) foram utilizadas en teste de patogenicidade

Leonardo de Jesus Góis de Oliveira

Doutor e mestre em Agroecologia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde se graduou em Agronomia.

Atua, principalmente, nos temas agricultura orgânica, controle alternativo e biológico de doenças de plantas, com ênfase em Fusariose, olericultura, taxonomia de fungos, genética de fungos e plantas e sanidade de sementes.

Os fungos do gênero Fusarium são encontrados em plantas e cereais, levando-as ao apodrecimento. Eles foram tema da tese de doutorado em Ciência Agrárias do pesquisador e professor Leonardo de Jesus Machado Góis de Oliveira, sob orientação da professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Campus São Luís, Antônia Alice Costa Rodrigues. A pesquisa “Caracterização fitopatogênica, morfológica e filogenética de isolados de Fusarium” utilizou, como objeto do estudo, as espécies preservadas na Micoteca Prof° Gilson Soares da Silva” da UEMA.

 

O gênero Fusarium é composto de dezenas de espécies que necessitam ser claramente definidas e separadas de maneira adequada, explica o pesquisador Leonardo de Oliveira. Ele ressalta que o conhecimento correto das espécies desse fungo é importante como referência para a quarentena, para uso no desenvolvimento dos chamados ‘kits diagnósticos de doenças’ e para a realização de estudos de variabilidade, bem como no processo de seleção de plantas resistentes às doenças.

 

“A conservação de microrganismos fitopatogênicos, como recurso genético, é importante para atender as necessidades e demandas da pesquisa agrícola. Atualmente, as diferenças já observadas são evidências fortes de que a evolução contínua dentro do grupo de espécies e os estudos da relação dessas cepas podem levar a novos conhecimentos sobre o desenvolvimento dos fungos e dos patógenos das plantas”, explica Leonardo Oliveira.

Inoculação de plantas de Quiabeiro (Abelmoschus esculentus) com isolados de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum.

Ele acrescenta que “à medida que um número cada vez maior de cepas e espécies de Fusarium são examinadas com as poderosas ferramentas moleculares, as linhas aparentemente distintas, usadas para separar alguns grupos destas cepas em espécies, provavelmente se tornarão mais claras, talvez muito mais claras, do que atualmente é visto”.  Ainda segundo ele, esse é um dos fungos mais destrutivos de plantas.

Para a pesquisa, foram obtidas 58 peças do fungo submetidas a testes de patogenicidade nos respectivos hospedeiros de origem – tomateiro, quiabeiro, bananeira, feijão-caupi, maracujazeiro e coentro. Foram realizadas avaliações da severidade da doença e do percentual de infecção para cada planta, observando cada método de preservação utilizado no teste de patogenicidade, a caracterização morfológica e molecular.

“As sequências dos isolados obtidos nesse trabalho, em conjunto com as depositadas no NCBI/Genbank, serviram para a construção de uma árvore filogenética para Inferência Bayesiana. Com isso, teremos um melhor entendimento da evolução filogenética dos isolados”, reitera Leonardo Oliveira.

Raspagem de colônia de Fusarium para extração de DNA

Resultados

A pesquisa constatou que os fungos isolados do coentro, com sintomas de tombamento ou mortas, pertencem ao complexo de Fusarium oxysporum. Essa descoberta é o primeiro registrado no país com caracterização molecular multilocus e possibilita a correta identificação do patógeno e a adoção de manejo eficiente da doença.

Além disso, isolados obtidos de bananeira – uma cultura amplamente difundida no Maranhão – causavam murchas vasculares e pertencem a diferentes complexos de espécies de Fusarium. “Acreditava-se que isolados que causavam murchas em bananeiras fossem também da mesma espécie e, durante as análises, observou-se que pertenciam a diferentes complexos de espécies do gênero Fusarium”, explica.

“O estudo mostra a importância da preservação dos isolados do Fusarium. Serve ainda, de fonte inestimável de descobertas para o entendimento de quais espécies desses fungos estão associados a doenças em diversos hospedeiros cultivados pelos agricultores maranhenses. Em pesquisas futuras, devem ser testados novos métodos de preservação de fungos fitopatogênicos na preservação da patogenicidade e ampliados o número de genes ou genoma completo dos isolados fúngicos. O que se pretende é obter o conhecimento do patrimônio genético desses microrganismos preservados”, reforça o pesquisador Leonardo Oliveira.

Reconhecimento

Leonardo obteve apoio da FAPEMA e destaca a importância desse reconhecimento. “Recebemos o prêmio FAPEMA de Melhor Tese e isso trouxe a possibilidade de me destacar no meio acadêmico. É um prestígio no currículo ser laureado com o prêmio mais importante do nosso estado e, ainda, colocar em destaque o nome da UEMA entre as instituições vencedoras. Foi um momento de grande emoção”, disse ele. Ressaltou, ainda, as contribuições de sua orientadora, como sendo “a grande responsável por chegar ao prêmio”.

Estimulado com a conquista e com a pesquisa, ele destaca que, ainda neste ano, irá iniciar o pós-doutorado. “Será uma pesquisa voltada para a cadeia produtiva da cultura da mandioca, de extrema importância para agricultura familiar maranhense”, finaliza.

Observação e registro fotográfico de estruturas morfológicas em microscópio óptico ZEISS.

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