Revista Inovação FAPEMA

Farmacovigilância: pesquisa avalia espécies vegetais de uso popular contra a COVID-19

Estudo vai desenvolver banco público de dados e identificar espécies com potencial clínico

A pesquisa irá constituir um banco de dados para disponibilizar as informações das espécies vegetais inventariada

Flávia Maria Mendonça do Amaral

Doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (UFPB). Mestrado em Saúde e Ambiente e graduação em Farmácia (UFMA) com habilitação em Indústria (UFRJ). Professora Associada da Universidade Federal do Maranhão. Bolsista de produtividade pela FAPEMA. Experiência na área de Farmácia, com ênfase em plantas medicinais, atuando principalmente em controle de qualidade, fitoquímica, fitoterápicos, farmacognosia e farmacotécnica homeopática.

Caracterizar as espécies vegetais empregadas ou mencionadas pela população ludovicense na terapêutica e prevenção da COVID-19. Esse é um dos objetivos da pesquisa “Atenção básica à saúde, fitoterapia e COVID-19: realidade e expectativa”, coordenada pela professora da Universidade Federal do Maranhão, Flávia Mendonça do Amaral.

O projeto conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio da Chamada Pública Emergencial Fomento à Pesquisa no Enfrentamento à Pandemia e Pós-Pandemia do COVID-19 – nº 6/2020.

Iniciado em outubro do ano passado, o projeto tem previsão de conclusão em outubro de 2022. O projeto está resgatando informações divulgadas em sites, com posterior avaliação da segurança em relação ao uso e potencial das espécies vegetais. “Prosseguimos nos estudos de validação na perspectiva de gerar bioprodutos; para proporcionar uma contribuição efetiva da fitoterapia nos serviços de atenção primária à saúde em relação à COVID-19”, explicou a pesquisadora.

O trabalho contempla estudos interdisciplinares nas áreas de etnobotânica e etnofarmacologia, bem como elaboração de banco de dados e, de acordo com a coordenadora da pesquisa, tem a pretensão de “minimizar eventos adversos pelo uso irracional de plantas no combate a pandemia atual”.

Metodologia

O inquérito populacional adotou entrevistas estruturadas e semiestruturadas com a caracterização de uso, seguida de coleta e identificação botânica das espécies vegetais mais empregadas ou referidas popularmente na terapêutica ou prevenção da doença.

Para a coleta das informações divulgadas nas redes de comunicação, a partir de dezembro de 2019,  tem sido realizada revisão sistemática no site de busca Google, empregando descritores definidos na proposta aprovada. 

As informações divulgadas nos sites selecionados são analisadas e as espécies vegetais referidas para uso em COVID-19 são organizadas por nome científico (referido no site ou pesquisado nas bases), nome vernacular, indicação terapêutica e forma de utilização. 

Análise dos dados 

Os dados do inquérito populacional são formatados e analisados por programa estatístico, com análise descritiva das variáveis e apresentação em tabelas de frequência. Nessa etapa do estudo são empregadas técnicas para análise de dados em pesquisa etnodirigida. 

A partir da identificação botânica das espécies mais frequentes mencionadas pelos entrevistados, bem como as espécies vegetais divulgadas nos sites, é realizada análise documental de informações técnicas dessas espécies, nas monografias de plantas do Ministério da Saúde/Brasil e da Organização Mundial de Saúde. 

“Buscamos indicar espécies vegetais com potencial para estudos de validação em modelos de ensaios pré-clínicos e clínicos contra SARS-Cov-2, além de identificar espécies vegetais que representam riscos ao uso, de acordo com relatos já comprovados na literatura”, explicou Flávia Amaral. “Há a real possibilidade de interferência nas condutas farmacológicas e não farmacológicas adotadas por populares, agravando, ainda mais, o surto e curso da doença” ressaltou.

Banco de dados 

A pesquisa está, ainda, desenvolvendo um banco de dados para disponibilizar as informações das espécies vegetais inventariadas. O acervo de dados irá reunir as espécies empregadas ou mencionadas como de uso popular na terapêutica ou prevenção da COVID-19, bem como as investigadas a partir das informações disponibilizadas nos sites analisados.

O banco irá informar nome científico, família, nome vernacular, distribuição geográfica, status, descrição (com ilustrações), uso popular, parte usada, características de identificação, constituintes químicos, estudos farmacológicos pré-clínicos e clínicos (com ênfase aos estudos de avaliação de atividade anti-viral, antiinflamatória, imunomodulatória, no tratamento de afecções respiratórias), estudos toxicológicos, eventos adversos, contra-indicações, precauções e referências. 

Benefícios dos estudos

A definição de espécies vegetais para futuros estudos de validação para o desenvolvimento de bioprodutos na terapêutica e prevenção da COVID-19, para emprego especialmente na Atenção Primária a Saúde, é um dos benefícios a serem obtidos pela pesquisa. “Isso atende as diretrizes e recomendações da Política Nacional de Saúde e da Organização Mundial de Saúde em relação ao incentivo do uso eficaz e seguro de plantas e fitoterápicos na Atenção Básica à Saúde”, pontuou Flávia Amaral.

A identificação de fake news pela constatação de que espécies vegetais divulgadas empiricamente contra a COVID-19 podem ocasionar graves eventos adversos é outro resultado benéfico do estudo. “Isso irá possibilitar o desenvolvimento de ações educativas, com informações para assegurar o uso racional de espécies vegetais, na perspectiva real de minimizar riscos”, avaliou a pesquisadora.

Outro benefício do estudo é a disponibilização de banco de dados das espécies vegetais inventariadas em uma interface simples, rápida e livre para consulta; tanto por profissionais das diversas áreas do conhecimento como pela sociedade.

Os resultados da pesquisa será divulgada em periódicos e eventos científicos; bem como nas agências reguladores de saúde.  Além disso, o trabalho incentiva a formação e capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento de pesquisas, tecnologias, inovações e atenção em Fitoterapia nos cursos de graduação e pós-graduação da UFMA. “Esse fato melhora a qualidade das atividades de pesquisa, extensão e ensino e contribui para o desenvolvimento científico local, regional e nacional”, conclui Flávia Amaral.

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