As plantas documentadas são apontadas pela comunidade como detentoras de propriedades curativas
Thauana Oliveira Rabelo
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Maranhão (MA). Atua como pesquisadora colaboradora do Herbário do Maranhão (HERBÁRIO MAR) desde 2019. Membro do Laboratório de Estudos Botânicos (LEB) da UFMA, desempenhando atividades de pesquisa e extensão em ecologia, com ênfase em etnobotânica e uso dos recursos naturais por comunidades tradicionais. Foi bolsista de Estágio e Inovação pela FAPEMA
Em determinadas situações, é comum ouvir a frase “melhor se benzer” quando se recomenda que alguém busque proteção e cura. Isso populariza um termo relacionado a uma prática religiosa que é feita pelos benzedores. Para exercê-la eles costumam utilizar plantas diversas, pois além de suas propriedades poderem intervir em males físicos, existe a crença de que esses benefícios se estendem para sanar problemas espirituais e emocionais.
Tal tradição representa um momento de encontro da religião com a biologia. Isso chamou a atenção da pesquisadora Thauana Oliveira Rabelo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que protagonizou uma pesquisa sobre o tema. Realizado sob orientação do professor doutor Eduardo Oliveira, o trabalho conquistou o segundo lugar na categoria POP VÍDEO do Prêmio FAPEMA 2021.
A prática em questão ocorre há séculos em diversas regiões do planeta e é de suma importância para a medicina popular brasileira por conta do amplo repertório de conhecimentos que foi construído sobre como e de que forma realizá-la. No Maranhão há também uma presença forte de benzedores que influenciam suas comunidades e uma das regiões em que eles se fazem presentes é o município de Anajatuba, na microrregião da Baixada Maranhense, onde Thauana realizou sua pesquisa. “Conservar espécies de plantas juntamente com os saberes a elas associados na prática de benzimento foi o objetivo da pesquisa”, explicou a pesquisadora.
As plantas documentadas por Thauana são apontadas pela comunidade como detentoras de propriedades curativas que combatem cólicas intestinais, gripe, problemas respiratórios, ansiedade ou agitação. Para problemas espirituais, a comunidade acredita que atuam contra o “mau- olhado” ou quebranto.
Ela coletou as plantas utilizadas por benzedores, identificou cada espécie com o auxílio de uma bibliografia especializada e realizou uma série de entrevistas com os moradores do local envolvidos com a prática. Além disso, ela fez um registro fotográfico que está sendo organizado como um guia das espécies coletadas para que haja uma popularização e preservação da prática.
O material foi coletado nas casas da comunidade e nas proximidades das residências. Treze benzedores de 23 a 90 anos foram entrevistados, sendo quatro do sexo feminino e nove do sexo masculino. Nesse processo, 56 espécies de plantas medicinais e mágico-religiosas foram identificadas.
Thauana destaca que esse quantitativo maior de homens benzedores em relação às mulheres é incomum em outras regiões do país. “Isso ocorre na região por conta de uma forte influência indígena na comunidade, pois para eles é comum os homens estarem à frente em práticas de cura tradicional”, explicou. “Depoimentos de alguns membros da comunidade revelaram uma preocupação que vai além da conservação das espécies e abrangeu também a conservação da tradição em si, visto que há baixa aceitação dos jovens de Anajatuba em continuá-la”, pontuou a pesquisadora.
Ela ressalta, ainda, a importância de conscientização e valorização da diversidade biológica e social que ocorre na baixada maranhense. O trabalho também reflete a necessidade da investigação científica para que haja uma intervenção voltada para a sustentabilidade ecológica e social. “Deve ser um processo de respeito e aprendizado com a diversidade das culturas e o significado delas para cada grupo de indivíduos”, concluiu.
Assista ao vídeo “Plantas que curam: a importância do conhecimento dos benzedores de Anajatuba, Maranhão”