Revista Inovação FAPEMA

Pesquisa estuda avanço de palafitas e o impacto nos manguezais

Investigação realizada no munícipio da Raposa é fruto de pesquisa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Maranhão

A cidade de 30 mil habitantes enfrenta as consequências ambientais da ocupação irregular

Yslaine Furtado Silva

Arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

Foi bolsista no Programa de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Estadual do Maranhão  (UEMA)

Raposa, assim como São José de Ribamar, Paço do Lumiar e a capital São Luís, é uma das cidades que constituem a Ilha de Upaon Açu. Reconhecida como município independente desde 1994, quando se separou  de Paço do Lumiar, a região viveu, na segunda metade do século XX, um acelerado processo de urbanização e crescimento populacional. 

O povoado de Raposa foi fundado por imigrantes cearenses na década de 1940, que foram atraídos pela fartura de peixes no local. Em 1965, foi inaugurada a estrada MA-203 que deu fim ao isolamento geográfico em relação ao resto da região metropolitana da ilha, o que viabilizou também o escoamento da produção local, desenvolvendo assim a economia e atraindo mais pessoas. Esse processo de aumento populacional se acentuou nas décadas de 70 e 80, com a chegada de novos empreendimentos e indústrias na Grande São Luís, e se acelerou, ainda mais, na década de 90 após a emancipação de Raposa como município independente.

Hoje, a cidade conta com cerca de 30 mil habitantes e enfrenta as consequências ambientais da ocupação irregular causada por quase um século de crescimento urbano acelerado sem a existência de uma política adequada de planejamento habitacional. 

A poluição, aterramento, acúmulo de lixo e proliferação de palafitas afetaram a extensa área de manguezal do município, bioma indispensável para a filtragem de poluentes da água e berço de uma fauna e flora única. E foi justamente para estudar o tamanho do impacto, ao longo do tempo, que a estudante de Arquitetura e Urbanismo Yslaine Furtado Silva, bolsista da Fapema através do programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Maranhão (PIBIC/FAPEMA 2019/2020- QUOTA UEMA), analisou a proliferação das palafitas em Raposa.

É necessária uma intervenção para melhoria da qualidade de vida dos moradores das palafitas

O projeto de pesquisa desenvolvido em sua graduação, teve por objetivo apresentar um panorama do crescimento das palafitas sobre os manguezais e a degradação sofrida por eles na cidade. Além disso, a investigação também visou identificar as áreas de manguezais restantes e analisar, comparativamente, mapas para determinar a extensão do crescimento da ação humana e do recuo do ecossistema nativo.

As palafitas são caracterizadas como uma construção em madeira com cobertura de palha ou telha, com uma passarela de madeira sobre o mangue que possibilita o acesso. A madeira utilizada para a construção é advinda do próprio manguezal, que acaba servindo de depósito de lixo e esgoto para as comunidades que vivem no local. 

Yslaine, hoje, já é uma arquiteta graduada e explica a necessidade de se ater especificamente ao fenômeno das palafitas como objeto de estudo: “Muitas vezes as casas começam como palafitas, depois eles aterram e constroem casas de alvenaria. Como estão localizadas no manguezal, essas comunidades acabam aterrando o mangue”, explica a pesquisadora. 

A pesquisa

A metodologia de pesquisa adotada no projeto de iniciação científica foi composta de várias etapas complementares: pesquisa bibliográfica, documental e de relatos informais da população local, fundamentação teórica e revisão de literatura, além das pesquisas de campo, com levantamentos fotográficos e físicos e mapeamento através de softwares especializados. Após essas etapas, a pesquisadora sistematizou, analisou e interpretou os dados coletados.

Para fazer a análise do desmatamento do mangue ao longo do tempo, Yslaine utilizou o Map Biomas, uma plataforma de mapas e dados online e digital. Com o auxílio da ferramenta, foram produzidos mapas personalizados com a área de mangue do munícipio de Raposa entre 2004 e 2018. A pesquisa e comparação dos mapas mostrou que não só o mangue vem sendo devastado rapidamente, como a situação vem avançado de forma cada vez mais rápida. 

Na comparação entre 2017 e 2018 foi identificada uma abrupta destruição do mangue, resultado do maior crescimento do município e a busca por moradia. “As pessoas de menor poder aquisitivo acabam sendo excluídas ou expulsas e vão em busca de novas moradias, se estabelecendo, em sua maioria, em áreas de preservação ambiental como o mangue”, explica a cientista no relatório final da pesquisa.

Para investigar o avanço das palafitas, entre 2013 e 2018, em um recorte territorial, Yslaine utilizou a plataforma Google Earth para fazer um mapeamento da região entre a Rua Tabiré e o trecho da Avenida Principal que constitui o único acesso terrestre do Cais da Raposa. “Esses pontos foram escolhidos pois neles se concentram uma quantidade significativa dessas construções”, explicou a pesquisadora.

A comparação das imagens constatou a destruição do mangue, que se afastou cada vez mais das construções, para que fossem realizados aterramentos que permitissem a construção de casas de alvenaria. “O aterro é ligado à ocupação urbana e é muito agressivo para a vegetação nativa, acelerando o processo de desaparecimento do mangue”, pontuou Yslaine. Além do mapeamento virtual, a bolsista realizou registros fotográficos que constataram a presença de aterros e construção de casas de alvenaria na Avenida Principal, além do acúmulo e despejo irregular de lixo doméstico.

Resultados, reflexões e agradecimentos

Segundo Yslaine, seu trabalho trouxe um novo olhar sobre essa região, além de atualizar os dados disponíveis acerca do munícipio. “Há pouco material científico sobre a cidade, tanto que foi difícil para mim obter informações sobre o lugar na época da pesquisa”, conta a pesquisadora. Para ela, além do avanço das palafitas e recuo do mangue, o trabalho constatou que as comunidades que ali vivem necessitam de apoio. “Elas estão lá por não terem opção de moradia e é necessária uma intervenção urbana para melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem nas palafitas, além da proteção do mangue”, destacou.

A hoje Arquiteta e Urbanista Yslaine Furtado lembra e agradece o apoio da Fapema com a bolsa de iniciação científica, que impulsionou o começo de sua produção acadêmica: “A Fundação foi de fundamental importância, sempre incentivando e investindo no pesquisador”, concluiu.

Um comentário

  1. SGT Antônio

    Parabéns por ter escolhido um local para sua pesquisa onde há um descaso pelo poder público, de preservação dos manguezais e remanejamento das pessoas que moram em palafitas,para um lugar digno.

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