Revista Inovação FAPEMA

Estudo de mestrado desenvolve método de micropropagação de planta medicinal do Maranhão

A técnica irá permitir o estudo do perfil de produção de compostos naturais com potencial farmacológico

Por meio da micropropagação é possível a obtenção de várias plantas a partir de um único fragmento inicial

Maria Luara Aragão Silva

Mestre em Agricultura e Ambiente pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Graduada em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).  Vinculada ao Laboratório de  Cultura de Tecidos da UEMA, atua em projetos de estabelecimento de espécies florestais e medicinais  in vitro e desenvolve trabalhos nas áreas de silvicultura urbana, educação ambiental e sistemas agroflorestais.

A micropropagação se insere no conjunto de técnicas da biotecnologia e tem despertado a atenção de pesquisadores em virtude de sua grande implicação prática e importância para o avanço dos conhecimentos nas áreas de fisiologia, bioquímica e genética de plantas.

 

A técnica é utilizada para promover o crescimento e a multiplicação de células, tecidos ou órgãos de vegetais em meio artificial com controle das condições de luminosidade, tempo e temperatura. As plantas produzidas são aclimatadas para, posteriormente, serem levadas a campo, com a geração de cópias idênticas às originais. 

 

Por meio desse processo, é possível a obtenção de várias plantas a partir de um único fragmento inicial, independentemente de condições climáticas, com redução do tempo e da área necessária à propagação da espécie. Além disso, as condições sanitárias para cultivo são melhores  e viabilizam a multiplicação de espécies difíceis de serem propagadas por métodos tradicionais.

 

A pesquisadora Maria Luara Aragão Silva aplicou a técnica com a pata-de-vaca [Bauhinia forficata], durante a sua pesquisa no mestrado em Agricultura e Ambiente pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),realizada entre  2019 e 2021, com financiamento da FAPEMA e do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD/Amazônia). 

 

“A ausência de trabalhos na literatura sobre a micropropagação da pata-de-vaca indicou a necessidade do desenvolvimento de métodos eficientes para a sua multiplicação por meio dessa técnica”, informou a pesquisadora.

A pata-de-vaca foi estabelecida com sucesso in vitro

A “pata-de-vaca [Bauhinia forficata] é uma planta leguminosa, de ocorrência no Maranhão, que apresenta componentes biologicamente ativos, como os flavonoides detentores de propriedades farmacológicas usadas no tratamento de diferentes tipos de patologias como diabetes, dores e processos inflamatórios”, ressaltou Luara Aragão

A pesquisa

O trabalho foi iniciado com a germinação das sementes de pata-de-vaca em meio de cultivo, após o desenvolvimento das plantas. Depois de 30 dias foi feita a repicagem (transferência das plântulas para o tubete) e os segmentos nodais das plantas germinadas foram armazenados em diferentes condições. 

“O objetivo da pesquisa foi avaliar duas intensidades de iluminação, o uso ou não de membranas e três níveis de sacarose, na resposta dos parâmetros morfogênicos do cultivo in vitro da planta”, explicou a pesquisadora. “Esse estudo se fez necessário uma vez que não existem ferramentas biotecnológicas de conservação e micropropagação para a espécie”, prosseguiu.

A pata-de-vaca foi estabelecida com sucesso in vitro e também foi definido um protocolo com as melhores condições de trocas gasosas e níveis de açúcar para seu cultivo”, avaliou Luara. “Além disso, foi feita uma caracterização do perfil de fitoquímicos da espécie”, prosseguiu. “Também o treinamento sobre as técnicas de cultura de tecidos irá auxiliar em programas de micropropagação para a exploração biotecnológica da pata-de-vaca”, destacou.

 Metodologia/ações do projeto

Foram utilizadas técnicas de cultura de tecidos e micropropagação e também de análises químicas para identificação do perfil fitoquímico da pata-de-vaca.

Foram utilizadas técnicas de cultura de tecidos e micropropagação e também de análises químicas para identificação do perfil fitoquímico da  pata-de-vaca.

Em um primeiro experimento, as sementes foram germinadas em dois níveis de sacarose: 0 e 30 g L-1 e em frascos com tampas de polipropileno com e sem membranas, perfazendo quatro tratamentos em fatorial 2×2 (níveis de trocas gasosas x níveis de sacarose). Em um segundo experimento foram utilizados dois níveis de irradiância: 43 e 70 μmol m-2 s-1 fornecidas por 2 e 4 lâmpadas LED branca. 

As avaliações foram realizadas após 50 dias do cultivo, obtendo a massa fresca (mg), massa seca (mg), comprimento do hipocótilo (cm), comprimento da folha (mm), largura da folha (mm), número de folhas por planta e a análise do perfil de produção de metabólitos secundários por cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta precisão (CLAP). 

A pandemia foi um fator complicador no desenvolvimento dos trabalhos, em relação ao acesso a laboratórios e realizações de análises, mas os trabalhos resultaram no estabelecimento de um novo protocolo para micropropagação da pata-de-vaca e na montagem de um banco de germoplasma in vitro para a espécie.

O projeto tem como meta, em uma segunda fase, a extração de metabólitos secundários

 

“O meu orientador Diego Batista sempre foi uma pessoa muito acessível, desde início apresentando a cultura de tecidos vegetais e a atuando ao longo do desenvolvimento do trabalho”, afirmou Luara. “Ele teve um papel fundamental para a realização desse projeto”, prosseguiu.  “Pensamos em aumentar a produção de compostos de interesse in vitro, como próximo passo nos estudos biotecnológicos da pata-de-vaca”, ponderou. 

O projeto tem como meta, em uma segunda fase, a extração de metabólitos secundários a ser realizada no laboratório de Química da Universidade Federal do Maranhão.

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