Revista Inovação FAPEMA

Igualdade no mercado de trabalho: faz o que digo, mas ….!!!

Pesquisa analisa discurso e prática de inclusão racial e de gênero em empresas do Maranhão

Não basta o discurso: são necessárias práticas efetivas para a produção de mudanças sociais

Tanielle Cristina dos Anjos Abreu

Doutoranda em Administração de Organizações na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto/SP (USP). Mestre em Políticas Públicas, com graduação em Administração pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pesquisadora do Núcleo de Direitos Humanos e Diversidade (N-Direitos) e do Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Relações de Gênero, Étnico-Raciais, Geracional, Mulheres e Feminismos (GERAMUS). Conquistou o 1º lugar do Prêmio Ser Humano 2019 da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Maranhão (ABRH-MA).  Temas de pesquisa: Gestão de Pessoas, Diversidade & Inclusão, Políticas Públicas, Mercado de Trabalho, Sustentabilidade Empresarial, Estudos Organizacionais, Raça, Classe, Gênero e Interseccionalidade. 

Para que uma sociedade seja justa, um dos pressupostos principais é o acesso universal ao emprego, com condições e oportunidades equitativas para todos. Infelizmente, as relações de trabalho, como diversas outras facetas da vida em sociedade, enfrentam situações de desigualdade tanto no acesso quanto na remuneração pelo serviço prestado. 

Para que sejam corrigidas essas desigualdades, são necessárias políticas que visem incluir os grupos que foram marginalizados do mercado de trabalho ao longo da história, como mulheres e negros. Além da aprovação de legislação e outras iniciativas do poder público, é fundamental que a iniciativa privada também possua estratégias internas para corrigir essa disparidade

Em sua dissertação de mestrado em Políticas Públicas, elaborada na Universidade Federal do Maranhão, a pesquisadora Tanielle Abreu, que foi uma bolsista apoiada pela Fapema entre 2019 e 2020, realizou a pesquisa “Gestão da Diversidade no Mercado de Trabalho: experiências e práticas de inclusão de mulheres e negros em empresas maranhenses”. A pesquisa analisou a prática de ações internas de empresas no Maranhão cujo objetivo era alcançar a promoção da diversidade e da inclusão racial e de gênero no contexto corporativo. Hoje, ela cursa o doutorado em Administração de Organizações na Faculdade de Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FEARP-USP), onde prossegue os estudos sobre o tema.

Tanielle explica a importância de se estudar, de forma aprofundada, a prática de empresas que se afirmam socialmente responsáveis e diversas. “Para além do discurso, são necessárias práticas efetivas para se produzir mudanças sociais” afirma. “Quando se acessam as informações da empresa para verificar o quadro funcional por cargo, segundo a cor e o gênero, é possível fazer uma comparação entre o discurso e a realidade”, complementa. “Da mesma forma, quando acesso as políticas e ações de diversidade e inclusão que essa empresa está realizando, é possível avaliar o compromisso dela com a mudança” explica a pesquisadora

As empresas maranhenses não se atualizaram na implementação de ações de inclusão

 

Discurso e prática

Após a análise dos dados, a pesquisadora constatou que, internamente nas empresas, ainda há uma grande distância entre discurso e prática. “Os resultados da pesquisa demonstraram que as empresas estão atrasadas na implementação de ações de inclusão desses grupos, especialmente sobre as políticas de igualdade racial”, explica. “Por consequência, as desigualdades são contínuas para as mulheres e, ainda mais, para a população negra no mercado local”, prossegue.

 

Além disso, o trabalho revelou a complexidade do tema da implementação da diversidade e inclusão. Segundo a autora, é necessário compreender a totalidade da questão, levando em conta tanto a origem patrimonialista, patriarcal e escravocrata da construção histórica do país. Mas também é preciso analisar o movimento atual das empresas em adotar ações e discurso de responsabilidade social para sobreviver e buscar legitimidade em um mundo que, cada vez mais, demanda por condições igualitárias de trabalho. 

 

“Acredito que a pesquisa oferece uma boa contribuição só de acessar essas informações internas das empresas e trazê-las à sociedade”, explica a pesquisadora. Ela também espera que sua dissertação colabore com o desenvolvimento de políticas públicas efetivas de combate às desigualdades tanto no âmbito estadual quanto no nacional.

 

Metodologia

A metodologia de pesquisa para o desenvolvimento do trabalho consistiu em um levantamento biográfico e documental, além de uma pesquisa de campo com entrevistas seimiestruturadas em três empresas de grande porte atuantes no Maranhão. No levantamento teórico, a dissertação abordou categorias de análise como trabalho, divisão sexual do trabalho, racismo estrutural, gênero, raça, classe, e interseccionalidade, além dos conceitos de gestão da diversidade e de responsabilidade social empresarial a partir de uma concepção crítica.

 

Para escolher as empresas que seriam o seu objeto de estudo, a pesquisadora considerou os compromissos públicos firmados com os temas de responsabilidade social, diversidade e sustentabilidade, tanto por meio da produção de material publicitário quanto pela participação em pactos globais ou de Institutos de Responsabilidade Social. “A minha abordagem foi qualitativa e a concepção de análise levou em consideração a natureza da sociedade capitalista e a própria natureza das organizações empresariais” explica a pesquisadora. “Essas características são determinantes para apreender o movimento real dessa relação contraditória, perpassada por conflitos de interesse entre os sujeitos envolvidos”, complementa.

 

A pesquisadora foi apoiada com bolsa de mestrado pela Fapema. Segundo ela, o apoio foi fundamental para que houve condições de realizar a pesquisa com um tema tão profundo e complexo. “A dedicação exclusiva foi imprescindível para o desenvolvimento da minha pesquisa com maior qualidade e isso só foi possível mediante a concessão da bolsa”, explica Tanielle. “A Fapema é muito importante para a ciência no Maranhão, no país e no mundo com todos os seus financiamentos, afinal nossas pesquisas rompem os limites do estado”, destaca.

Um comentário

  1. Raimundo inocencio dos anjos

    Parabéns nossa futura DOUTORA! Que Deus te abençoe e dê vida longa para que você possa mostrar toda sua inteligência e força no desenvolvimento de seu intelecto!!

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