Revista Inovação FAPEMA

Pesquisa busca contribuir com o desenvolvimento da ostreicultura no Maranhão

O estudo sobre crescimento e sobrevivência de ostras já influencia projetos familiares em comunidades tradicionais.

A orientadora do projeto, Izabel Funo, e membros da comunidade local, Francisco Souza e Odoriel Barata, durante manejo no período experimental.

Ana Melissa de Moraes Câmara

Técnica em Agropecuária pelo IFMA Campus Maracanã, onde cursa Licenciatura em Ciências Agrárias. Integra o Núcleo de Maricultura (NUMAR) da instituição, onde desenvolve pesquisas voltadas ao cultivo de organismos aquáticos (como ostra, sururu, peixe ornamentais, microalgas e artêmias em laboratório) e para o estudo da pesca artesanal de mariscos. Atualmente desenvolve pesquisa que avalia o crescimento e a sobrevivência do suuru Mytella strigata sob diferentes concentrações de salinidade em laboratório.

O cultivo das ostras (conhecido como ostreicultura) possibilita a geração de emprego, renda e alimento, sendo, portanto, considerada uma importante ferramenta para a diminuição da pobreza em populações nativas litorâneas e pescadores artesanais. O Maranhão, entretanto, ainda não apresenta índices representativos de ostreicultura, apesar de ter clima tropical, áreas favoráveis para o seu desenvolvimento e uma concentração considerável de espécies que servem para o consumo humano. Portanto, ganha relevância a realização de estudos sobre a exploração de moluscos comestíveis no estado.

Um dos fatores que afetam o crescimento das ostras é quantidade estocada na estrutura de cultivo. E para avaliar o efeito da densidade de estocagem no crescimento e sobrevivência da ostra nativa Crassostrea gasar, a pesquisadora Ana Melissa de Moraes Câmara, do Instituto Federal do Maranhão – Campus Maracanã, desenvolveu o projeto “Influência da Densidade de Estocagem no Crescimento e na Sobrevivência da Ostra Nativa Crassotrea na Região Estuarina do Município de Bequimão (MA)”. 

O experimento foi realizado em um estuário localizado no povoado de Paricatiua, no município maranhense de Bequimão, entre setembro de 2018 e agosto de 2019, com orientação da professora do IFMA Izabel Cristina da Silva Almeida Funo, doutora em Recurso Pesqueiro e Aquicultura. O trabalho foi vencedor do Prêmio Fapema 2021, na categoria Popvídeo Ciências.

Avaliamos, mensalmente, o crescimento e o desempenho de sobrevivência da ostra – altura da concha e peso total – cultivada em diferentes densidades de estocagem”, explicou Melissa Câmara. “Determinamos as relações entre variáveis ambientais e o desempenho das ostras, com análise qualitativa dos organismos incrustantes e associados às estruturas de cultivo”, prosseguiu.

De acordo com a pesquisadora, os resultados do trabalho geram subsídios para o aprimoramento de metodologias de cultivo adequadas para a ostra nativa Crassostrea gasar, levando em consideração às características ambientais da região. “Almeja-se que tais resultados contribuam com o desenvolvimento da atividade no estado, principalmente, junto às comunidades tradicionais ao longo do litoral maranhense”, afirmou. 

Impactos e resultados obtidos

A pesquisa constatou que as ostras cultivadas nos tratamentos com maior densidade de estocagem apresentaram desempenho significativamente superior para os parâmetros produtivos avaliados (altura da concha, peso e sobrevivência). “As maiores densidades de estocagem proporcionaram menor incidência de organismos indesejáveis fixadas nas estruturas de cultivo, o que resultou no maior crescimento e sobrevivência das ostras nas elevadas densidades”, explicou Melissa.

O trabalho constatou, ainda, que os meses com maior intensidade de chuvas e menor salinidade favoreceram o menor crescimento e sobrevivência das ostras, além de ter contribuído para a maior aglomeração de organismos indesejáveis ao cultivo. “Foi registrada maior ocorrência de sururu, enquanto que áscidias [seringas do mar] e pequenos caranguejos foram registrados, eventualmente, durante todo o período experimental”, mencionou a pesquisadora. “O período de estiagem na região estudada proporcionou a maior ocorrência de cracas [uma espécie de artrópode parente das lagostas e camarões], sementes de ostras e poliquetas fixados no cultivo”, prosseguiu.

Os resultados do projeto já têm influenciado os moradores locais na implantação de uma ostreicultura familiar no município de Bequimão. “Ainda que a pandemia da Covid-19 tenha prejudicado a iniciativa, percebemos que a ostreicultura, antes uma realidade inimaginável para os extrativistas locais, já é um sonho possível”, concluiu a pesquisadora.

 Metodologia/ações do projeto

A coordenadora do projeto, Izabel Funo, Ana Melissa (bolsista FAPEMA) e voluntários do projeto na realização de biometria durante o período experimental.

Na realização do trabalho foi adotado um sistema de cultivo fixo (conhecido como cama ou mesa), construído de madeira com capacidade para abrigar 12 estruturas de cultivos. O sistema foi instalado nas margens do estuário e, quando submetido a maré baixa, deixou as ostras expostas pelo máximo três horas ao dia, quando foi realizado o manejo no cultivo e a limpeza das estruturas de cultivo.

As sementes de ostras utilizadas foram obtidas no ambiente natural, com o emprego de coletores construídos com garrafas PET de embalagens descartáveis de refrigerantes. No total foram utilizadas cerca de 3.150 sementes de ostra para realizar o povoamento do experimento.

Na primeira etapa do experimento foram utilizadas sementes de ostras medindo entre 20 a 30 mm, que  foram acondicionadas em travesseiros 9 mm de malha e cultivadas em diferentes densidades (270, 360 e 450 ostras por travesseiro). Essa fase durou  três meses.

Na segunda etapa, ao atingirem 40 mm de altura da concha, as ostras foram remanejadas para travesseiros com abertura de malhas de 21 mm e mantidas na densidade de povoamento inicial por três meses. A cada 45 dias, foi realizada a biometria (medidas em relação altura da concha com auxílio de um paquímetro), pesagem (determinação do peso vivo total, em gramas) e contagem (determinação da taxa de mortalidade) das ostras. 

Ostras Crassostrea gasar em um dos manejos realizados durante o experimento.

Para avaliar o crescimento foram amostradas 30 ostras de cada travesseiro, totalizando 360 a cada mês. A sobrevivência mensal foi determinada através da contagem do número de ostras vivas em cada um dos travesseiros amostrados a cada mês.

No local do cultivo foram coletadas, mensalmente, amostras de água que foram transportadas até o laboratório em caixas térmicas, para análise da salinidade, da clorofila e da concentração de material em suspensão. No momento da coleta foi medida a temperatura da água próximo da superfície. Também foi realizada a coleta dos organismos incrustantes e associados presentes na tela das estruturas de cultivo e no interior dos travesseiros.

“Foi aplicada uma análise de variância simples para os dados normais e variâncias homogêneas, para avaliar o efeito da densidade de estocagem sobre os parâmetros de crescimento e sobrevivência os dados de altura, peso total e sobrevivência”, explicou a pesquisadora.

A premiação

“Desenvolvo pesquisa com apoio da FAPEMA desde o meu ensino médio e isso me possibilitou um crescimento muito significativo enquanto pesquisadora”, afirmou Melissa. “Ter um trabalho científico reconhecido pelo Prêmio Fapema foi uma honra”, prosseguiu. “Nos esforçamos muito, eu, a minha orientadora e os colegas de laboratório, para alcançar os resultados do nosso trabalho e que eles tivessem influência nas comunidades tradicionais”, apontou.

“Sabemos que a divulgação da ciência é muito relevante para incentivar o desenvolvimento de outras pesquisas com a ostreicultura, sobretudo nessas comunidades”, avaliou. “ Por isso, fico feliz com a visibilidade que nosso trabalho teve e estou cheia de expectativas para o desenvolvimento de mais pesquisas científicas no Maranhão com o apoio da FAPEMA”, concluiu.

Confira o vídeo da pesquisadora:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *