Estudo identificou novo tipo de piaba e gerou mais de 120 sequências inéditas
Felipe Polivanov Ottoni
Pós-doutor em Biodiversidade e Biologia Evolutiva (Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ) e em Zoologia (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/UNESP). Doutor e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas-Zoologia do Museu Nacional (UFRJ). Graduado em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Campus Chapadinha, e em Zoologia (UFRJ).
Professor da UFMA Campus Chapadinha, credenciado ao Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação. Bolsista produtividade CNPq e pesquisador do Programa de Doutorado da Rede Bionorte. Pesquisas nas áreas de sistemática, taxonomia clássica e integrativa, inventário de espécies, biogeografia, ecologia e evolução de peixes, principalmente de água doce, ictiofauna do Maranhão e da Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental, com sistemática molecular e espécies crípticas.
Um potencial em espécies de peixes, pouco explorado, chamou a atenção do biólogo Felipe Polivanov Ottoni para produzir o ‘Guia de identificação molecular para peixes de água doce do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: estimando a diversidade e auxiliando a conservação das espécies’. Ele conta que, ao ter contato com a fauna do local, no ano de 2016, percebeu a variedade dessas espécies e, ao longo do estudo, descobriu um novo tipo de piaba. Essa imersão no trabalho de campo e análise de materiais resultou numa publicação de dois inventários – um livro e um artigo científico – , que contaram com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).
A nova piaba, chamada Hyphessobrycon piorskii, foi batizada com o nome do ictiólogo maranhense Nivaldo Magalhães Piorski. A descrição da espécie foi baseada tanto em dados morfológicos quanto moleculares. “À medida que íamos estudando as espécies de peixes dos Lençóis Maranhenses, verificamos o potencial que a região possui nesse quesito”, explica o pesquisador Felipe Ottoni. “Percebemos que estudos com base apenas em morfologia seriam insuficientes para precisar o número de espécies de peixes de água doce que habitam no parque”, prossegue. “Algumas espécies pertencem a grupos ainda pouco estudados, necessitando de análises mais aprofundadas, especialmente relacionando dados morfológicos e moleculares”, complementa.
Ottoni justifica que o tema é extremamente relevante devido ao fenômeno global chamado ‘crise de biodiversidade’, que tem como consequência a extinção de espécies e populações em um ritmo muito mais acelerado do que o natural. “Esse fenômeno vem causando a extinção de centenas de espécies nos últimos anos e mais acentuada nos ecossistemas aquáticos de água doce, mostrando que são mais vulneráveis”, ressalta.
Um terço das espécies de peixes de água do mundo está na América do Sul. O Maranhão abriga uma diversidade que precisa ser mais explorada e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, apesar de ser uma Unidade de Conservação, não garante ter protegida essa diversidade. O estudo tem a intenção de estimular ações para conservação e manejo desta variedade e, se for necessário, medidas de conservação para espécies particulares.
Pela conservação das espécies
A pesquisa busca promover a identificação de espécies ainda não descritas; estimar a diversidade das espécies que ocorrem em ambientes de água doce; estimular inventários regionais, especialmente conduzidos em ambientes de água doce; conhecer a distribuição geográfica dessas espécies e estimular o investimento em coleções científicas sobre o tema. “Apenas com essas ações prioritárias é que políticas e medidas relacionadas à conservação das espécies e populações podem ser executadas. E essas políticas só serão eficientes se tivermos boa quantidade de informações sobre as espécies que queremos proteger”, avalia.
Uma boa opção para se estimar a diversidade de grupos de animais, com precisão, explica Felipe Ottoni, é adotar a Taxonomia Integrativa – método que utiliza mais de uma fonte de dados, em geral, morfológicos e genéticos, em trabalhos de taxonomia. Essa prática identifica com velocidade e eficiência a diversidade de grupos. “Sendo assim, diante desse contexto da ‘crise da biodiversidade de água doce’, trabalhos e projetos que integrem dados morfológicos com moleculares devem ser encorajados e estimulados”, avalia.
Guia das espécies
A pesquisa, iniciada em 2021, ainda está em fase de execução. A proposta foi selecionada no edital ‘Cooperação Acadêmica Maranhão-São Paulo’. Mesmo com os resultados ainda preliminares, o trabalho foi publicado em parte no ‘67th Brazilian Congress of Genetics’ – 67° Congresso Brasileiro de Genética, realizado em 2022 – e já gerou mais de 120 sequências inéditas relacionadas à pesquisa. “Esperamos, com esse trabalho, poder fornecer um guia de identificação molecular para as espécies de água doce do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e gerar outros materiais sobre o tema”, pontua.
Felipe Ottoni destacou que o estudo trará múltiplos benefícios para o Maranhão, por se tratar de projeto multidisciplinar, que aborda tanto taxonomia, genética populacional e conservação, com fins de estimar a diversidade de peixes de água doce e propor medidas de conservação no local. “Ao final do projeto, esperamos conseguir revelar essa real diversidade e dar suporte ou, até mesmo, auxiliar a implementação de políticas e projetos de conservação a serem conduzidos no parque”, ressalta.
Apoio da FAPEMA
Ele acrescenta que o apoio da FAPEMA foi fundamental para dar início ao projeto. O estudo foi recomendado e classificado em edital da fundação e foram nove meses de apoio para conduzir o projeto e viabilizar a estadia em Botucatu, São Paulo, onde fica o Laboratório de Biologia e Genética de Peixes (LBGP), do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
“O apoio que recebi da FAPEMA foi fundamental para que eu pudesse trabalhar no laboratório, iniciando a pesquisa. Foi um período muito gratificante e enriquecedor para minha formação profissional, pois eu estava trabalhando no principal laboratório de genética de peixes do país, o que me fez aprender muito. E eu estava sendo supervisionado por uma das maiores autoridades do mundo em relação à taxonomia e sistemática molecular de peixes”, conclui.