A pesquisa é desenvolvida como trabalho de iniciação científica
Carla Maria Pereira Silva
Estudante do curso de Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) desde 2019. Desenvolveu pesquisas com objetivo de diagnosticar Ehrlichia canis em cães atendidos no HVU/UEMA e para detecção de Mycoplasma spp em bovinos da microrregião do Médio Mearim. Atualmente, exerce o cargo de secretária de Comunicação da Liga Acadêmica de Oncologia Veterinária (LIONCO) da UEMA. Participa das atividades de rotina do Laboratório de Patologia Animal da UEMA
A leishmaniose é transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto denominado flebotomíneo – conhecido popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui -, quando está infectado. Não há vacina e os tratamentos são à base de remédios com significativo teor de toxidade e valor elevado. Pensando em amenizar essa ação no corpo humano, bem como na questão financeira, a acadêmica de Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Campus São Luís, Carla Maria Pereira Silva, desenvolve o estudo ‘Fitoterápico com atividade leishmanicida, a partir de folhas de Terminalia catappa’.
O grupo de pesquisa do qual ela faz parte já desenvolve estudos na área de produtos naturais para tratamento de leishmaniose há aproximadamente 15 anos. “É uma doença negligenciada e endêmica na nossa região e os tratamentos atuais utilizam quimioterápicos que têm como consequência efeitos colaterais, resistência e certa toxicidade”, explica a pesquisadora. “Nós buscamos uma alternativa, utilizando a espécie T. catappa, que é abundante na nossa região e, com isso, esperamos produzir um fitoterápico menos tóxico e mais barato”, prossegue.
A pesquisa é um trabalho de iniciação científica, que integra projeto de doutorado. Ela avalia o uso do extrato da Terminalia catappa (árvore amendoeira da praia) para o desenvolvimento de uma droga antiprotozoária. “Diversos estudos já foram publicados nessa mesma linha de pesquisa, porém, utilizando outras espécies do gênero Terminalia, observando essa potencialidade contra parasitos”, informa. “A novidade é a utilização de um fitoterápico com uma espécie que ainda não foi estudada, a respeito da sua ação contra Leishmaniose. Esperamos contribuir com o desenvolvimento de uma formulação antiparasitária menos tóxica e com valor mais acessível para a população que está inserida em região endêmica”, explica.
O gênero Terminalia, espécie de planta analisada no estudo, é conhecido popularmente por suas propriedades antiparasitárias e alguns estudos já comprovaram ação contra espécies de Leishmania. Essas espécies possuem inúmeras propriedades medicinais, como antioxidantes, antitumorais, anti-inflamatórias e antifúngicas. Além disso, os compostos fitoquímicos estão diretamente associados a essas atividades. “Desse modo, o objetivo desse estudo foi investigar os efeitos leishmanicidas dos extratos e frações em modelos in vitro, com fins a criar um produto farmacologicamente ativo com propriedades leishmanicidas”, diz Carla Silva.
O trabalho tem orientação da médica veterinária e doutora em Biologia Parasitária, Ana Lucia Abreu Silva, que é professora da UEMA; com coorientação da bióloga Sandra Alves de Araújo. O estudo conta com apoio da FAPEMA, que, na avaliação da pesquisadora, é imprescindível para que seja executado. “O apoio da FAPEMA é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Os recursos provenientes do edital têm contribuído para a compra de insumos e equipamentos, possibilitando a execução do nosso trabalho. Além disso, o apoio é de suma importância para o crescimento da ciência no nosso estado”, reitera.
Pesquisa
As folhas da planta utilizadas na pesquisa foram coletadas na Fazenda Escola, da UEMA, em São Luís. O extrato e as frações obtidas foram analisados quanto ao perfil fitoquímico por HPLC-UV-ESI-IT/MS e utilizadas para análise ‘in vitro’ contra a espécie Leishmania amazonenses. O processo teve colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro.
O extrato e as frações foram promissores contra a espécie Leishmania amazonensis e não apresentaram toxicidade para células hospedeiras. Como impacto, a pesquisa contribui com o desenvolvimento de um medicamento eficaz e mais acessível para a população. Os resultados dessa pesquisa estão sobre segredo de patente. “Temos o objetivo de dar continuidade por meio de ensaios in vivo, a fim de confirmar a eficácia em animais e, posteriormente, em humanos”, ressalta a pesquisadora. A pesquisa teve início em 2021 e está na fase final para publicação dos resultados.
Doença
As leishmanioses são um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero ‘Leishmania’ e da família Trypanosomatidae, atacando pele, mucosas e, também, órgãos internos. Os sintomas incluem febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado e do baço, hemorragias e imunodeficiência. Não há vacina contra as leishmanioses humanas. As principais medidas de prevenção se baseiam no controle dos mosquitos e dos reservatórios, diagnóstico precoce e tratamento de doentes.
Para prevenir a doença é orientado o uso de repelentes, evitar horários e ambientes onde esses mosquitos possam ter atividade, utilização de mosquiteiros de tela fina e, dentro do possível, a colocação de telas de proteção nas janelas. Outras medidas importantes são manter sempre limpas as áreas próximas às residências e os abrigos de animais domésticos; realizar podas periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes sombreados e não acumular lixo orgânico.
Para todas as formas de leishmaniose, o tratamento de primeira linha no Brasil se faz por meio do medicamento antimoniato de meglumina (Glucantime). Outras drogas, utilizadas como segunda escolha, são a anfotericina B e a pentamidina. Todas essas drogas têm toxicidade considerável.