Revista Inovação FAPEMA

Estudo maranhense investiga alternativas para o tratamento da Leishmaniose canina

O estudo obteve óleo essencial letal para o protozoário sem prejuízo aos cães

Pesquisa foi vencedora do Prêmio FAPEMA/2021, na categoria Tese de Doutorado, na área de Ciências Agrárias

Renata Mondêgo de Oliveira

Doutora em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO). Mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde se graduou em Medicina Veterinária. Experiência em Medicina Veterinária, nas subáreas de histologia, cultivo celular, uso de plantas medicinais e tratamentos para doenças infecciosas

Além dos seres humanos, os cães também são hospedeiros do parasita que causa a leishmaniose e podem desenvolver a doença. No passado, não havia medicamentos aprovados para os animais, já que existia o pensamento de que aplicar o mesmo fármaco utilizado em humanos poderia aumentar a resistência do protozoário e dificultar o tratamento das pessoas. Por conta desta restrição, o diagnóstico da doença era uma sentença de morte para os bichinhos: todos os animais infectados tinham que ser sacrificados. 

 

Hoje em dia, isso já não é necessário pois existe o tratamento à base da medicação Milteforan. Entretanto, é necessário que se busque alternativas, já que ele se trata de um medicamento com um preço muito elevado que não se coaduna com a realidade da maior parte das pessoas. Em busca de uma nova perspectiva para o tratamento canino, a pesquisadora Renata Mondego produziu a tese de doutorado “Efeito leishmanicida do óleo essencial de Vernonia brasiliana” (L.) Druce (Asteraceae) em Leishmanina Infantum”, que lhe rendeu espaço no podium do Prêmio Fapema 2021

 

A PESQUISA 

A Vernonia é um arbusto muito comum no Brasil e no Maranhão e as plantas desse grupo já são utilizadas por comunidades tradicionais que praticam medicina popular, como os indígenas, quilombolas e a população ribeirinha. Já existem trabalhos que apontam a Vernonia Brasiliana como promissora no combate da Leishmania Amazonensis. Renata buscou descobrir se essa eficácia também existe no combate à Leishmania Infantum, que causa a Leishmaniose Visceral Canina (LVC).

Para produzir o óleo essencial de Vernonia brasiliana, é necessário primeiro coletar a planta. Para isso, a pesquisadora se deslocou até o município de Santa Luzia no interior do estado. Após a coleta, a planta passou por um processo de secagem e moagem e, enfim, levada a um equipamento que extraiu o seu óleo essencial. Após isso, o óleo foi caracterizado quimicamente, ou seja, foram identificados os compostos químicos que integram a sua composição e, a partir da análise química, os testes puderam começar. 

Antes de avaliar a eficácia do óleo contra o protozoário, foi necessário realizar um teste em células animais. ”Fizemos isso para observar a toxicidade do óleo, porque de nada adiantaria ele ter o efeito leishmanicida se também causasse a morte do animal” explicou Renata. De acordo com ela, os testes provaram que o óleo não é tóxico para as células. 

Após confirmar que o composto é seguro para o hospedeiro, foi a hora de verificar o seu efeito no combate ao parasita. A Leishmania Infantum foi coletada de animais infectados e mantida em cultura para que os testes pudessem ser realizados. O efeito do óleo essencial foi exatamente o que se espera de uma medicação. Não é tóxico para as células, mas é letal para o protozoário. O resultado positivo, para Renata, marca apenas o começo dos estudos.  “O trabalho nunca termina” destaca a pesquisadora. Ela informa os próximo passos. “Agora que a gente conseguiu esse efeito em condições controladas de laboratório, precisamos testar a eficácia do óleo essencial em pacientes vivos”.

O reconhecimento do prêmio Fapema foi uma fonte de orgulho muito grande para Renata, que também diz que estaria satisfeita só de ter sido finalista. A pesquisadora também destacou a importância do evento promovido pela Fapema para incentivar a ciência. “Claro que também tem a questão financeira, mas nem de longe isso é o que mais importa”, afirmou. “O que importa é a gente ver uma instituição como a Fapema valorizando os pesquisadores e a produção do conhecimento científico, na contramão do que infelizmente acontece nos dias de hoje”, finalizou Renata.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *