Revista Inovação FAPEMA

Preservação e uso de espécies vegetais em quilombo de Bequimão

Pesquisa foi realizada em comunidade onde a cientista nasceu e cresceu.

Há um vasto uso de espécies que estão ameaçadas de extinção, segundo a pesquisadora

Ingrid Amorim

Pós-doutorado na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).  Doutora e mestre em Biodiversidade e Biotecnologia pela Rede Bionorte.

Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Atua como pesquisadora colaboradora do Laboratório de Estudos Botânicos da UFMA.

 

Identificar as potencialidades medicinais da variada flora no quilombo Pericumã, em Bequimão, na baixada maranhense. Esse é o foco do estudo ‘Diversidade e valor de uso de plantas lenhosas na baixada maranhense, Amazônia Oriental, Brasil’. Fruto da tese de doutorado da pesquisadora Ingrid Fabiana Fonseca Amorim, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o trabalho recebeu apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA). Publicado em periódico internacional, conquistou o Prêmio FAPEMA 2023, na categoria Tese de Doutorado.

A partir de levantamento etnobotânico das espécies vegetais existentes na comunidade quilombola de Pericumã, o estudo busca apontar o valor de uso (alimentício, medicinal, ritualístico, tecnológico e alimentício, dentre outros), a importância e a situação da conservação dessa flora. A etnobotânica analisa as sociedades humanas e suas interações com as plantas, nos seus mais variados âmbitos e compreendendo diversas categorias. “São espécies utilizadas em maior parte quanto ao potencial medicinal. Vejo como uma contribuição para jovens e outros estudantes trabalharem essa e outras potencialidades em suas comunidades, porém o uso precisa ser mais cauteloso e levar em consideração a conservação desses ambientes florestais”, explica Ingrid Amorim.

A flora integra a cultura desses povos, ressalta a pesquisadora, devido ao seu tempo e forma de uso. No entanto, ela alerta que o sistema vêm passando por um forte processo de exaustão, por conta uso inadequado e acelerado desses recursos.

“A fim de evitar um colapso nos ambientes florestais e, consequentemente, o impacto na vida das comunidades que vivem nesses ambientes, a adoção de atividades voltadas para a sustentabilidade em áreas florestais é uma alternativa para evitar a degradação e ajudar na economia local, respeitando cultura e valores sociais”, reforça.

Ingrid Amorim faz parte da comunidade quilombola onde desenvolveu o estudo e aponta que ela passa por vários problemas sociais e econômicos, devido à falta de políticas públicas. Por esse motivo, o uso de recursos naturais é muito expressivo, além de fazer parte da realidade desse povo desde sua formação social, com o uso dessas plantas na alimentaçãoe na economia, com a produção de artesanatos, uso madeireiro e medicinal, que têm importante papel nos serviços ecossistêmicos.

“Os estudos etnobotânicos nas comunidades quilombolas ainda são bastante escassos e, diante desse cenário, pesquisas sobre esse conhecimento e uso da diversidade vegetal, se justificam por contribuir com a população que usa ou depende diretamente desses recursos. E além disso, possibilita ações que propiciem o manejo correto da vegetação, servindo de subsídio para elaboração de planos com foco na conservação e recuperação dessas áreas florestais”, explica a pesquisadora.

Para o desenvolvimento do estudo foi realizada a metodologia do tipo censo, com participação dos chefes de família (homens e mulheres), no período de fevereiro 2019 a novembro de 2020, com a realização de 32 entrevistas. A identificação taxonômica das etnoespécies foi realizada com auxílio de literatura especializada vigente, plataformas botânicas como Specieslink, Flora do Brasil (2020) e comparação com material do Herbário do Maranhão da UFMA.

Os resultados do estudo demonstraram que a comunidade quilombola Pericumã possui vasto conhecimento sobre a diversidade vegetal utilizada na região e depende desses recursos naturais para subsistir. O elevado número de citações e suas formas de uso estão diretamente relacionadas à cultura da comunidade. A pesquisa também apontou espécies ameaçadas de extinção. Esses resultados foram publicados ano passado, em forma de artigo, com o título ‘Use and conservation of species in an environmental protected area (epa) in baixada maranhense, Eastern Amazônia, Brazil”, na revista mexicana de Etnobiologia.

Ingrid Amorim conta que receber o Prêmio Fapema foi inesperado. “Foi uma grande surpresa ter sido vencedora do prêmio, sobretudo com uma pesquisa feita na comunidade onde eu nasci. É uma honra poder ser um exemplo e estímulo para outras pessoas dessa comunidade quilombola”, afirma.

A pesquisadora pontuou, ainda, a relevância da Fapema em sua carreira acadêmica e para impulso à ciência maranhense. “A Fapema é muito importante para todos nós, tanto para a concessão de bolsa quanto pelos investimentos na pesquisa do Maranhão. Fui bolsista da instituição desde a minha graduação e esse apoio é um importante reforço para o avanço da ciência em nosso estado”, ressalta Ingrid Amorim. O trabalho teve orientação do doutor em Botânica, Eduardo Bezerra de Almeida Junior.

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