A tecnologia educacional viabiliza a manutenção do aleitamento indicado pelo Ministério da Saúde
Ana Paula Matos Ferreira
Mestrado e graduação em Enfermagem pela Universidade Federal no Maranhão (UFMA). Especialização em Obstetrícia e Neonatologia. Residência em Saúde da Criança e do Adolescente pelo Programa de Residência Multiprofissional do Hospital Universitário Presidente Dutra. Assessora técnica da Escola de Saúde Pública do Maranhão e na Assistência Materno Infantil.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno é a alimentação mais completa que um bebê pode obter, até os seis meses de vida, de forma exclusiva, e, após esta fase, até os dois anos de vida de modo complementar. Geralmente, quando se fala em amamentação, o foco principal é a saúde do bebê. Afinal, a ingestão de leite reduz a mortalidade, os casos de diarreia, infecções respiratórias, hipertensão, colesterol alto, diabetes e a obesidade. Porém, é importante destacar que as mães também recebem vários benefícios por essa ação de amor.
Ocorre que nem todas as mães conseguem produzir leite suficiente e, por isso, a prática da amamentação se torna complicada. Pensando no percentual de mães que têm dificuldade de amamentar, diversas campanhas são realizadas visando ampliar o aleitamento em todo país, mobilizando instituições governamentais e não-governamentais, comunidade científica, grupos religiosos e o público em geral.
Outro grande aliado nessa luta é a tecnologia, ao permitir a criação de aplicativos que possam ajudar as mães nessa tarefa. Pensando nisso, a mestra em Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ana Paula Matos Ferreira, desenvolveu um software sobre o cuidado com as mamas durante as dificuldade na amamentação. Denominado “SOS Mama: aplicativo móvel para puérperas que vivenciam dificuldades no aleitamento materno”, ele é baseado na Teoria Social Cognitiva, de acordo com os princípios do User-Centered Design (UCD).
Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por meio da Chamada Pública MCTIC/CNPq nº 28/2018, o projeto foi vencedor da categoria Dissertação de Mestrado no Prêmio Fapema 2021 – Mulheres Cientistas do Maranhão – Ana Angélica Macêdo, Luciane Brito e Zafira de Almeida.
Ana Paula Ferreira começou a observar que, no processo de amamentação, ocorre a interrupção do aleitamento materno, muitas vezes por problemas ou dificuldades que surgem nessa fase. “Pensamos em desenvolver uma tecnologia educacional no formato de aplicativo móvel, de modo a atender às necessidades de conhecimento das puérperas relacionadas as dificuldades sentidas, com informações que pudessem auxiliá-las e, assim, manter a amamentação conforme indicação do Ministério da Saúde”, afirmou.
Metodologia
Para desenvolver o software de aplicativo SOS Mama, foi realizado um estudo metodológico fundamentado na teoria social cognitiva e User-Centered Design (UCD). A construção do aplicativo seguiu os princípios do UCD, como o foco no usuário e suas tarefas.
Foram desenvolvidos estudos de revisão de literatura e estudo de campo para ajudar na definição do conteúdo e ferramentas a serem apresentadas no aplicativo. “Além disso, realizamos a mensuração da usabilidade do produto”, ressaltou. “Nessa etapa, houve a construção do protótipo do software aplicativo e, em seguida, o seu conteúdo e aparência foram validados por especialistas na área de saúde”, prosseguiu. “Também foi avaliada a usabilidade por especialistas em computação, de acordo com as Heurísticas de Nielsen, bem como pelas puérperas que o aprovaram”, ressaltou.
Para organização dos dados relacionados ao estudo de campo foi utilizado o software Web Qualitative Data Analysis© (webQDA©). A validação foi testada por meio do Índice de Validade do Conteúdo (IVC), teste exato binomial a 5% de significância. Para a usabilidade foram identificados os problemas e o grau de severidade e os testes foram realizados no programa IBM SPSS. “Após a validação foram também analisados os comentários e sugestões para atualização do aplicativo com as observações dos especialistas em conteúdo, em computação e das puérperas”, complementou a mestre em Enfermagem.
O estudo vem sendo desenvolvido desde 2018 e o produto foi registrado no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). Após verificada sua efetividade, será disponibilizado gratuitamente nas principais plataformas de aplicativos do país, de forma a contribuir com as ações educativas para promoção do aleitamento materno conforme definido pelo Ministério da Saúde.
Segundo a pesquisadora, após a finalização da etapa de validação, o aplicativo passou por uma atualização, apresentada numa 2ª versão, em que foram consideradas as sugestões recebidas pelos especialistas e puérperas. Em seguida foi realizada nova rodada de validação com os especialistas. Também foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar o letramento em saúde e a usabilidade do aplicativo SOS Mama com participação de 100 puérperas, quando foi constatada pontuação média de 70,5, confirmando, assim, a validade do aplicativo quanto à usabilidade e aplicação junto ao público alvo. “No mesmo projeto está sendo realizado um ensaio clínico randomizado com o objetivo de avaliar o efeito do aplicativo na autoeficácia em amamentar, na prevenção de intercorrências da amamentação e no aleitamento materno”, enfatizou Ana Paula Ferreira. Ele está sendo desenvolvido no Alojamento Conjunto da Unidade Materno Infantil do Hospital Universitário da UFMA, na capital maranhense, até 2023.
Quatro estudantes do programa de Pós-Graduação em Enfermagem (nível de mestrado) e três de iniciação científica do curso de Enfermagem do Campus de Imperatriz (UFMA) integram o projeto que conta, ainda, com a colaboração de professores do programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
Ana Paula Ferreira fez questão de pontuar que pretende concorrer ao edital Universal e ao edital Artigos para tentar receber auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) com os custos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa e as publicações dos resultados obtidos. Em sua avaliação, a FAPEMA é fundamental para os pesquisadores maranhenses. “O financiamento e apoio da Fundação possibilitam o desenvolvimento de pesquisa em diferentes áreas, contribuindo com a sociedade por meio do desenvolvimento científico e tecnológico no estado do Maranhão”, destacou.