Revista Inovação FAPEMA

Assédio sexual impacta a saúde e o trabalho de mulheres jornalistas

A pesquisa resultou na elaboração de uma cartilha com os principais resultados, que foi distribuída para a imprensa

O estudo identificou que os assediadores são, predominantemente, homens entrevistados em matérias jornalísticas e colegas de trabalho

Janaína Lopes de Amorim

Mestra em Comunicação pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com bolsa da FAPEMA. É especialista em Assessoria de Comunicação Empresarial e Institucional (UFMA) e em Educação, Comunicação, Tecnologia em Interfaces Digitais (Estácio). Graduada em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) e em Comunicação Social/Jornalismo (UFMA). Integra o grupo de pesquisa G-ciber e desenvolve estudos sobre gênero e rotina jornalística.

Compreender e identificar as práticas de assédio sexual sofridas por mulheres jornalistas na rotina de trabalho. Esse foi o objetivo da mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Janaína Lopes de Amorim, em sua pesquisa “O corpo está no contrato? Assédio sexual contra mulheres jornalistas nas redações de Imperatriz”. 

A pesquisa foi vencedora na categoria dissertação de mestrado do Prêmio Fapema 2021: Mulheres Cientistas do Maranhão na área de Ciências Humanas, Sociais e Linguística Letras e Artes.

A pesquisa, que foi orientada pela professora doutora Thaisa Cristina Bueno, visa avaliar qual é o impacto dessa violência não só para as mulheres mas também para a rotina de trabalho. ‘É verificar como as mulheres identificam o assédio, quem são os agentes assediadores conforme gênero, hierarquia e função que desempenham dentro das redações e como as mulheres lidam com isso’, disse Janaína Amorim. 

A escolha do tema da pesquisa

De acordo com Janaína Amorim, o desenvolvimento da pesquisa partiu primeiro de uma curiosidade profissional, uma vez que o assédio era um tema recorrente nos corredores e bastidores. A pesquisadora, atuando como jornalista, observava que era recorrente que colegas de trabalho confidenciassem casos de assédio e, mesmo assim, o assunto não ultrapassava a barreira de bastidores. “Não se ouvia as empresas nem a academia tratando dessa violência e o meu interesse partiu dessa recorrência, em contraposição com o silenciamento”, afirmou. “Quando me veio esse insight fiz um levantamento no banco de dados da Capes e de outras revistas científicas e percebi que não havia pesquisa que tratava diretamente do assédio sexual”, prosseguiu. “Havia pesquisas que tangenciavam tratando do tema de forma secundária, mas de forma específica não”, pontuou.

Janaína Amorim relatou que parte da pesquisa contou com fontes de diferentes canais de comunicação e já foi concluída, mas pretende dar continuidade ao assunto para avaliar outas situações vivenciadas nas redações jornalísticas em Imperatriz. “Pretendo dar continuidade a esse estudo e aprofundar algumas questões”, informou. O estudo levou dois anos para ser concluído. “Selecionei algumas redações de TVs, rádios e portais, mas não cito nomes, nem das entrevistadas e nem dos veículos, para preservar o sigilo da fonte”, prosseguiu. “Temos veículos impressos em Imperatriz, mas não foi incluído no recorte da pesquisa porque não há mulheres que atuam como jornalistas”, destacou.

 

Metodologia

De acordo Janaína, a pesquisa foi realizada de forma empírica com abordagem qualitativa que utilizou entrevista aberta e em profundida com cada fonte. Dezenove mulheres que fazem parte das redações de Imperatriz foram entrevistadas pela pesquisadora. “Escolhi entrevistas nesse formato porque é um tema muito sensível; tratar de violência é sempre muito delicado”, explicou. “Essa metodologia se aproxima mais de uma conversa informal e acredito que as mulheres se sentiram à vontade para falar sobre o tema por conta dessa ferramenta metodológica”, avaliou. Janaína Amorim ressaltou, ainda, que todas as mulheres entrevistadas afirmaram que foram vítimas de assédio sexual no ambiente de trabalho.

Benefícios e resultados obtidos

A pesquisa resultou na elaboração de uma cartilha com os principais resultados, que foi distribuída para a imprensa. Na avaliação da pesquisadora, o trabalho é de grande importância por ser uma das primeiras no Brasil sobre o assunto, em nível acadêmico. Ainda segundo ela, é a primeira dissertação de mestrado do Maranhão que trata sobre esse tema especificamente. “A pesquisa chama atenção para o debate, para o impacto dessa violência de gênero, ainda muito silenciada, não só para as mulheres, mas, também, para a carreira profissional”, sinalizou a pesquisadora da UFMA.

O estudo identificou que o perfil de assediador é, predominantemente, de homens que atuam como fonte de informações e que são entrevistados para produção das matérias e, também, de colegas de trabalho com hierarquia superior. “Esse perfil mostra a questão da relação de poder contido nessa prática de assédio”, disse a pesquisadora. Além disso, com a pesquisa foi possível detectar que a prática do assédio leva as mulheres a recusarem algumas oportunidades de trabalho para evitar serem vítimas. “Impacta também na saúde das mulheres, pois várias tiveram que recorrer a tratamentos psicológicos depois de serem assediadas repetidas vezes”, prosseguiu Janaína Amorim. “Também afeta a rotina de trabalho porque elas trocam as fontes, deixam de entrevistar algumas pessoas ou trocam as pautas de matérias com as colegas”, complementou.

Para Janaína Amorim, fazer pesquisa no Brasil é difícil. E fazer pesquisa em Ciências Sociais, sendo mulher, durante uma pandemia, com o recorte de gênero como objeto, é muito mais ainda. “É uma luta a todo instante, inclusive contra nós mesmas, para desconstruir uma série de inseguranças que encucamos durante um processo de socialização extremamente misógino”, comentou.

“Essa premiação é tão importante, valoriza a pesquisa em tempos de negacionismo e motiva as mulheres a seguir nessa área”, comentou. “Enquanto no resto do Brasil, há cortes de investimentos na educação, temos um governo no Maranhão que investe constantemente e valoriza essa área que é tão importante para o desenvolvimento social”, finalizou.

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