Revista Inovação FAPEMA

PORTO DO ITAQUI: PEÇA ESTRATÉGICA PARA O DESENVOLVIMENTO

Pesquisa revela relação direta entre a atividade portuária e a geração de empregos

Pela primeira vez, uma pesquisa científica mensura a relação entre a atividade portuária e a geração de empregos diretos no estado

Alexsandro Brito

Doutor em Ciências Sociais na área de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde se graduou em Economia. Professor da UFMA do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico. É coordenador do Grupo de Análise da Política Econômica (GAPE). Atua nas áreas de Desenvolvimento, Emprego, Renda, Macroeconomia, Política Econômica e Consórcios Públicos.

Resultados animadores apontados no estudo intitulado “Impactos socioeconômicos da atividade portuária na economia regional: análise da distribuição espacial dos postos de trabalho por gênero e efeitos sobre o nível do emprego e da renda no Maranhão” vem colocando luz sobre o verdadeiro impacto do Porto do Itaqui na economia maranhense.

Pela primeira vez, uma pesquisa científica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) mediu, com base em dados oficiais e metodologia robusta, a relação direta entre a atividade portuária e a geração de empregos diretos no estado. A conclusão é clara: o Porto do Itaqui é uma peça estratégica tanto pela logística como para o desenvolvimento socioeconômico do Maranhão.

Realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e em parceria com a Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), a pesquisa traz uma contribuição inédita ao demonstrar, com evidências empíricas, como a movimentação de cargas no Itaqui influencia diretamente a criação de empregos formais.

“Ao longo do estudo, conseguimos comprovar que o Porto do Itaqui tem um papel relevante na geração de empregos diretos, com desempenho superior até mesmo ao de setores tradicionalmente reconhecidos como as micro e pequenas empresas”, explica o coordenador da pesquisa e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexsandro Sousa Brito, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).  A equipe de pesquisa é composta, ainda, pela professora Vanessa Ragone e pelos bolsistas de iniciação científica Júlia Cristina Lucas Leite e José Orlando Lima Cardoso Júnior.

Maior geração de empregos do Nordeste

Entre os dados mais expressivos está o fato de que, entre 2002 e 2018, o Itaqui registrou uma taxa líquida média anual de criação de empregos de 11,81%, número 2,26 vezes superior à média da Região Nordeste. Mesmo movimentando um volume 7,6 vezes menor de cargas que o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, o Itaqui foi responsável por 27% dos empregos diretos do setor portuário no estado no período analisado.

Metodologia da pesquisa

Um dos grandes diferenciais do trabalho é a aplicação de uma metodologia inédita (job flows) no contexto da atividade portuária maranhense. Foram utilizados modelos estatísticos avançados, como a regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e o modelo de fluxos de emprego (job flows), originalmente desenvolvido por economistas como Davis e Haltiwanger. Os dados vieram de fontes oficiais, como o Novo CAGED (2020–2023) e a RAIS identificada (2002–2018) – acessada mediante contrato de sigilo com o Ministério do Trabalho e Emprego.

De acordo com o estudo, é possível afirmar que a cada 53 toneladas de carga movimentadas no Itaqui, um novo emprego é gerado. O efeito é ainda mais claro no caso de cargas sólidas: 55,5 toneladas movimentadas resultam, em média, na admissão de um trabalhador. Por outro lado, não foi identificada correlação entre movimentação de cargas e desligamentos ou saldos de emprego.

“O que nos chamou a atenção foi a consistência dos dados ao longo dos anos. Há uma dinâmica clara de criação de empregos ligada ao aumento da movimentação portuária, principalmente em setores que demandam maior intensidade de trabalho, como armazenagem e agenciamento marítimo”, ressalta Brito.

Os resultados apontam caminhos concretos para o desenvolvimento do estado. O estudo mostra que o tipo de carga movimentada influencia a intensidade de geração de empregos. Isso significa que políticas públicas e estratégias empresariais podem ser desenhadas para valorizar operações com maior impacto socioeconômico.

Apesar dos avanços, os pesquisadores reconhecem algumas limitações: a ausência de dados de instituições como o OGMO (Órgão Gestor de Mão de Obra) pode levar à subestimação do número real de empregos; além disso, o estudo abrange apenas até 2018, sendo que a etapa seguinte, que analisará os anos de 2019 a 2022, está prevista para ser concluída até dezembro deste ano.

Inovação e desempenho

“A pesquisa mostra que não é apenas o tamanho do porto que importa, mas sim como ele está estruturado e quais políticas de inovação e desenvolvimento estão em vigor. O caso do Itaqui é emblemático nesse sentido”, afirma o pesquisador.

Além disso, o bom desempenho do Itaqui está fortemente ligado à política de inovação implementada pela EMAP, iniciativa apoiada também pela FAPEMA. Entre 2006 e 2018, o quadro de funcionários da empresa sextuplicou, refletindo diretamente na taxa de criação de empregos. Esse crescimento se deu com uma taxa de destruição de empregos significativamente baixa, mais de seis vezes inferior à registrada por micro e pequenas empresas.

Premiação

A relevância do estudo já foi reconhecida nacionalmente foi reconhecida em evento nacional, sediado no Maranhão. A pesquisa conquistou o primeiro lugar na categoria Produção Acadêmica do Prêmio Porto do Itaqui, durante o Inova Portos 2025,  o maior evento de inovação portuária do país. A premiação valoriza o papel da ciência aplicada na formulação de políticas públicas e reforça a importância da parceria entre universidades, setor público e iniciativa privada.

Pesquisa e políticas públicas

O estudo é um exemplo claro de como o investimento em pesquisa científica pode gerar conhecimento útil para orientar decisões públicas e empresariais. Através do apoio da FAPEMA, foi possível desenvolver uma investigação com rigor técnico, alinhada às necessidades do estado e com potencial para transformar realidades. “O Porto do Itaqui vai além de uma estrutura logística, ele também é um motor de desenvolvimento econômico e social para o Maranhão. E a ciência tem um papel fundamental em revelar esse potencial”, conclui Brito.

Ao contribuir para a geração de empregos, renda e novas oportunidades, o Porto do Itaqui se consolida como um dos principais ativos do Maranhão, demonstrando que, com planejamento, inovação e pesquisa, é viável construir um modelo de desenvolvimento equilibrado e duradouro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *