Revista Inovação FAPEMA

Pesquisa avalia estruturas de baixo custo para cultivo de sururu

Resultados possibilitam a inclusão de comunidades do litoral em novas cadeias produtivas

O estudo produziu uma estrutura de cultivo do tipo corda tabular, confeccionada com resíduos sólidos descartados no litoral

Leonardo Célio Alves Dias dos Santos

Curso técnico integrado em Agropecuária pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (FMA) Campus São Luís Maracanã, onde cursa técnico subsequente em Aquicultura.

É membro do laboratório NUMAR/IFMA, onde atua como voluntário em projetos de pesquisa e extensão na área de cultivo de moluscos bivalves. 

Confeccionar e avaliar a eficácia de um protótipo de estrutura de cultivo de sururu a baixo custo, confeccionado a partir de material reaproveitado. Esse foi o objetivo da pesquisa desenvolvida por Leonardo Célio Alves Dias dos Santos e que conquistou o terceiro lugar no Prêmio Fapema 2022, na categoria Pesquisador Júnior.

A investigação do estudante do Curso Técnico em Aquicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) contou com a orientação da professora Izabel Cristina da Silva Almeida Funo, doutora em Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Campus São Luís Maracanã.

Ela coordena o Núcleo de Maricultura do IFMA (NUMAR) que vem realizando pesquisas sobre o tema há cinco anos.  O laboratório é referência e pesquisadores do Pará já buscaram parceria para capacitar recursos humanos da região Norte para desenvolver pesquisa similar. “O projeto premiado faz parte de um projeto maior que já vem sendo desenvolvido desde 2018”, explica Izabel Funo. “O projeto de Leonardo já foi finalizado, mas o projeto maior, que visa desenvolver um pacote tecnológico para realizar o cultivo de sururu, ainda se encontra em andamento, com etapas para serem realizadas até 2027”, complementa.

O projeto foi financiado pelo próprio IFMA, por meio do edital PRPGI nº 176/2021 de apoio à pesquisa aplicada à inovação e foi realizado no município de São José de Ribamar. “A pesquisa nasceu de uma demanda das próprias comunidades locais de marisqueiras, que ao ver a diminuição de sururu nos bancos naturais tem evidenciado cada vez mais a necessidade tem buscado alternativas para amenizar esse problema”, enfatiza Leonardo.

Por ser de fácil confecção e aplicação, a estrutura de cultivo pode ser facilmente executada nas comunidades tradicionais,

Resultados

A estrutura de cultivo, confeccionada a partir de materiais alternativos, mostrou-se eficaz no cultivo das espécies de sururu por meio da análise de parâmetros produtivo (como crescimento da concha, ganho de peso, sobrevivência), e ambiental (temperatura e salinidade).

“Os resultados sinalizam que as espécies estudadas podem ser cultivadas na estrutura de cordas suspensas em condições estuarinas influenciadas pelas macromarés, demostrando taxas de crescimento diário satisfatórias”, informa Leonardo.

Embora a taxa de sobrevivência ao final do experimento tenha sido semelhante, o alcance do tamanho comercial foi melhor obtido em cordas de cultivo de M. strigata, indicando a necessidade de um tempo de cultivo superior a 180 dias para M. guyanensis. “A estrutura de cultivo alternativo proporcionou resultados positivos, em relação aos parâmetros produtivos do sururu, e pode ser adotada como modelo para a mitilicultura em comunidades tradicionais”, complementa Izabel Funo.

A estrutura de cultivo alternativo de sururu proporcionou resultados positivos

Benefícios

A estrutura de cultivo de baixo custo confeccionado e implantado na região estuarina de São José de Ribamar é uma tecnologia viável para o cultivo de sururu nas condições ambientais locais, com potencial econômico e produtivo. “Isso pode trazer diversos benefícios às famílias que trabalham com a mariscagem na região, bem como em todo o litoral maranhense”, avalia Leonardo.

Izabel Funo ressalta que o uso de materiais reaproveitáveis para a confecção do sistema de cultivo possui duplo benefício às comunidades pesqueiras. “Possibilita a inclusão dessas comunidades em novas cadeias produtivas e promove a redução dos resíduos oriundos da pesca e construção civil que são descartados ao longo do litoral”, afirma a orientadora.

Por ser de fácil confecção e aplicação, a estrutura de cultivo pode ser facilmente executada nas comunidades tradicionais, espaços que são, historicamente, ocupados por uma população desassistida das principais políticas públicas, que apresentam baixa renda e pouca ou nenhuma educação formal. “Nosso estudo abre portas para alinhamento entre o conhecimento técnico-experimental na área de aquicultura e sua aplicação diretamente nas comunidades tradicionais pesqueiras, onde há maior carência dessas tecnologias baratas e acessíveis”, ressalta o pesquisador júnior.

Os resultados positivos do cultivo experimental das espécies de sururu podem balizar ações de conscientização nas comunidades sobre o molusco, sobre a prática intensa de extrativismo e sobre a poluição dos estuários da região e seus impactos na diminuição desses seres vivos nos bancos naturais ao longo dos anos, com foco em ações conservacionistas da biodiversidade local.

Metodologia

O estudo produziu uma estrutura de cultivo do tipo corda tabular, confeccionada com resíduos sólidos descartados no litoral, como cordas, panos de rede de pesca e canos PVC oriundos da construção civil. ”Adaptamos a estrutura de cultivo para favorecer a biologia dos mexilhões, de modo a favorecer a fixação e o crescimento dos organismos durante o ciclo de cultivo”, informa Leonardo.

Ensacamento das sementes para a formação das cordas de cultivo: a) cano PVC; b) redes tubulares (poliamida) com cabo central de nylon; c) povoamento da corda e d) corda de sururu preparada para ser fixada no sistema de cultivo.

“Para verificar a eficiência da estrutura, acompanhamos um ciclo de cultivo de sururu montado em delineamento inteiramente casualisado com dois tratamentos (cordas de M. strigata e de M. guyanensis) e quinze repetições, perfazendo 30 unidades experimentais constituídas por cordas de um metro de comprimento, povoadas na densidade de 840 ind. m-1 de corda”, explica Izabel Funo.

O estudo ficou restrito a um único estuário na ilha, por conta da pandemia da Covid-19, de forma a facilitar o acesso e o desenvolvimento da pesquisa. “A eficácia do estudo poderia ser maior caso tivéssemos abrangido mais de uma comunidade ao longo do litoral maranhense”, pontua Funo.

Futuro

O pesquisador destacam a necessidade de realizar novas pesquisas durante um intervalo maior de tempo, na pretensão de avaliar a influência da sazonalidade nos parâmetros produtivos da espécie. “A ideia é realizar o cultivo em um intervalo superior a 180 dias, na perspectiva de avaliar o crescimento do sururu”, informa Funo.

Segundo ela, também é necessário realizar o cultivo em estuários com diferentes níveis de salinidade, aprimorar o recrutamento de sementes de sururu em coletores artificiais e desenvolver pesquisas voltada para a produção de sementes de sururu em laboratório.

Para Leonardo Santos,  a orientação de Izabel Funo foi fundamental para o sucesso do trabalho e para a premiação. “Ela esteve presente em todas as etapas do projeto e conduziu a orientação de uma maneira que me fez acrescentar também a minha experiência na concepção do meu projeto de pesquisa”, finaliza.

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