A pesquisa auxilia na composição de evidências científicas basiladoras de políticas públicas
Rejane Christine de Sousa Queiroz
Doutora e mestra em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (Fiocruz/RJ). É graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora associada do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pesquisadora da área de saúde coletiva do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva e do Programa Profissional da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF) em que atualmente coordena o núcleo com sede na UFMA. Atua principalmente em pesquisas nas áreas de epidemiologia e a avaliação de serviços de saúde.
O isolamento social consiste em separar uma pessoa ou grupo do convívio com o restante da sociedade e acontece por motivos interiores ou exteriores de cada indivíduo. É fato que, antes da COVID-19, o termo isolamento social era raramente utilizado mas, devido à pandemia, foi uma situação imposta pelos órgãos sanitários competentes com a finalidade de garantir a vida das pessoas em todo mundo, um dos direitos existentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O modo como as pessoas precisaram atender às medidas de isolamento para conter a pandemia deixando de manter contato físico com familiares e amigos poderia impactar na saúde pública a longo prazo. E com o propósito de realizar levantamento sobre os impactos causados pelas medidas de isolamento social por conta da COVI-19, a pesquisadora Rejane Christine de Sousa Queiroz, doutora em saúde pública pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), realizou o estudo “Medidas de isolamento social e índice de vulnerabilidade no Brasil e letalidade no Maranhão: contribuições de modelos de análise espaço temporal para Covid-19”.
O projeto foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do edital nº 06/2020 – Chamada Pública Emergencial Fomento à Pesquisa no Enfrentamento à Pandemia e Pós-Pandemia da Covid-19, para analisar os desfechos da pandemia, considerando o índice de vulnerabilidade municipal de São Luís, e identificar os fatores que influenciam na letalidade dos casos no estado do Maranhão.
De acordo com Rejane Queiroz, o estudo surgiu a partir da necessidade incontestável de esclarecer dúvidas e orientar sobre a pandemia pela COVID-19 como uma emergência em saúde pública. “Encaro a saúde pública como uma missão e percebi que pesquisadores, gestores e profissionais de diferentes instituições tinham interesses e dúvidas em comum”, destacou a professora da UFMA. “Esse contexto alavancou a submissão de nossa proposta para analisar a relação entre o impacto das medidas de isolamento social e a morbidade e a mortalidade pela COVID-19, levando em consideração diferenças na vulnerabilidade dos municípios”, prosseguiu.
Com o intuito de ressaltar o Maranhão, também foi proposto investigar quais os fatores que poderiam influenciar a letalidade dos casos da doença no estado. “No decorrer da pesquisa, a morte precoce do meu irmão mais novo por COVID-19 foi uma tragédia particular que impactou no atraso da pesquisa, mas também ressignificou a importância desta pesquisa para melhor alcançar os gestores e a sociedade de modo geral”, complementou Rejane Queiroz.
Metodologia
Para fazer levantamento e desenvolver o estudo, a pesquisadora utilizou método de linkage de bases de dados (técnica que permite a identificação e vinculação de dados de um mesmo indivíduo armazenados em diferentes bases), análise espaço temporal, além de machine learn (aprendizagem de máquina) e modelagem por equações estruturais (MEE). “A apresentação parcial dos resultados, a confecção de tabelas, gráficos e mapas será realizada e disponibilizada em uma plataforma inteligente de análise visual (Tableau) que possui métodos de integração e visualização do máximo de dados (demográficos, sociais, clínicos, de serviços de saúde, de morbidade e mortalidade), facilitando o uso pelos gestores da saúde. Serão utilizados diferentes softwares, como R, STATA, Mplus, ARCGIS, GeoDa e Qgis”, pontuou Rejane Queiroz.
Segundo a professora da UFMA, o estudo iniciou em dezembro de 2020, mas ainda não foi finalizado e precisou ter a programação readequada por diferentes situações que impossibilitaram atender o prazo inicial proposto. “Houve atrasos por diferentes motivos: o impacto da pandemia na adequação do trabalho remoto, forte impacto da morte precoce do meu irmão por COVID-19, a necessidade de readequação de alguns objetivos que já foram contemplados em pesquisas já publicadas, além da atualização dos casos de COVID-19 para o ano de 2020 e 2021, disponibilizados recentemente”, disse.
“Para melhor compreensão, esclareço que a primeira etapa de levantamento de variáveis em diferentes bases de dados pressupõe a escolha das variáveis a partir de critérios de qualidade com obediência aos preceitos éticos, representatividade do fenômeno estudado, adequação ao local e ao tempo, simplicidade e oportunidade”, explicou. “Após esta etapa, segue-se para o linkage das bases de dados com todas as variáveis coletadas, o que pressupõe a organização, limpeza e processamento dos dados. Posteriormente, vamos partir para a construção de indicadores (sociais, demográficos, de serviços de saúde, de morbidade e mortalidade) e, finalmente, as análises exploratória, estimação e testagem de modelos” detalhou a doutora em Saúde Pública.
Benefícios e Resultados
Rejane Queiroz relata que, do ponto de vista acadêmico, já existem benefícios que são cruciais como a formação de recursos humanos na área da saúde com a produção acadêmica de dissertações, teses e iniciação científica, além do fortalecimento da pesquisa na área da saúde coletiva. “Além de todo esse aparato de recursos conquistados a partir do estudo sobre os impactos do isolamento social na pandemia, vamos possibilitar o fortalecimento de parcerias da UFMA com a Universidade Estadual de Maringá (UEM), a Duke University na Carolina do Norte – EUA e a Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão (SES/MA). “E do ponto de vista dos serviços de saúde, benefícios serão obtidos a partir da disponibilização dos resultados em uma plataforma inteligente, que possibilite aos gestores a tomada de decisões mais embasadas para o controle de agravos na população”, completou.
A pesquisadora espera que o levantamento e análise sobre os impactos do isolamento social possam fortalecer a pesquisa nacional acerca do monitoramento em saúde e da vigilância das doenças transmissíveis no campo da saúde coletiva sobre a COVID-19. “Espera-se melhorar o embasamento científico na tomada de decisões, otimizando a alocação de recursos e direcionando a formulação de políticas públicas intersetoriais”, afirmou. “Além disso, ressaltamos a relevância loco regional do estudo, identificando, principalmente, quais os fatores que influenciam na mortalidade por COVID-19 e quais regiões geográficas que possuem maior vulnerabilidade pela doença no Maranhão”, contou.
Rejane declarou que pretende continuar participando dos editais a serem lançados pela FAPEMA e que possam colaborar para a conclusão do levantamento. “Estimulando o desenvolvimento dessa pesquisa, a FAPEMA apoia a área da saúde pública, a consolidação das parcerias e estimula a formação de recursos humanos no Maranhão”, ressaltou. “Desenvolver esta pesquisa que envolve a temática da vulnerabilidade regional em relação a COVID-19 é uma forma de ajudar a compor um corpo de evidências científicas capazes de embasar políticas na área”, finalizou.