Revista Inovação FAPEMA

Conhecimento Tradicional indígena e Ciência: uma parceria pela educação

A pesquisa levou à construção de material didático digital em forma de livreto

É possível realizar um paralelo entre a química, cultura indígena, a defesa da posse da terra pelos indígenas e os cuidados ambientais

Ana Clara Barros dos Santos

 

Estudante do curso Técnico em Meio Ambiente pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Coordenadora dos projetos “A cultura Indígena como temática para a produção de material didático digital para a educação científica” e ”Entrelaços: saberes e fazeres da produção artesanal de sabão em diálogo com os conhecimentos científicos na constituição dos conhecimentos escolares”.

A educação é um dos pilares de uma sociedade, é uma das formas pela qual o conhecimento é transmitido de geração a geração. Nesse processo, é importante a consciência acerca da pluralidade e diversidade cultural, para que não ocorra o extermínio de tradições e símbolos de pertencimento de grupos étnicos que se encontram marginalizados.

Um dos mais violentos “apagamentos” da história brasileira, sem dúvida, é a dos povos tradicionais que, além de conviverem com o desprezo do seu conhecimento e crenças por aqueles que estiveram no poder por muitos séculos, tiveram as suas terras invadidas e a sua população dizimada. Só no Maranhão existiam, no século XVIII, 250 mil indíviduos que compunham cerca de 30 etnias indígenas diferentes. Hoje, apenas pouco mais de 35 mil pessoas se declaram indígenas no estado, e a maioria das etnias já nem existe.

Pensando em formas de minimizar ese estrago secular, valorizando o conhecimento tradicional dos povos indígenas e aplicando-os em um contexto de ensino de Química, a estudante do curso de Técnico em Meio ambiente, Ana Clara Barros dos Santos, do IFMA Campus Porto Franco desenvolveu, juntamente com a sua orientadora Kátia Dias Ferreira Ribeiro, o projeto “a Cultura Indígena como temática para a produção de material didático digital para a educação científica”. Ele conquistou o segundo lugar na categoria Pesquisador Júnior da última edição do Prêmio FAPEMA

A ideia surgiu quando a estudante e sua orientadora estudavam uma pomada à base de canabidiol, com o objetivo de produzir um material didático em formato de livreto em que o processo de produção da pomada era utilizado como ponto de apoio para o ensino sobre as transformações da matéria. Após o contato com os Tentehar/Guajajaras, localizados na terra indígena de Araribóia, a jovem pesquisadora conta que foi uma verdadeira troca de conhecimentos que definiu os próximos passos. “Durante alguns dias que passamos na comunidade, vimos o quão riquíssimo eram os conhecimentos indígenas e quanto tinham a nos ensinar. Nisso, conhecemos a pintura indígena com jenipapo e iniciamos outra etapa do projeto”, explica Ana Clara.

 

A fase seguinte foi utilizar o conhecimento adquirido para ensinar química orgânica em aulas experimentais no Campus IFMA Porto Franco, com o diálogo entre o conhecimento indígena e o científico. Para Ana Clara, a experiência foi um sucesso e comprova que a aliança entre ensino da ciência e conhecimento tradicional dos povos originários é benéfico para ambos os campos do saber. “Devemos pensar sobre o que é ciência, como a praticamos; há diversas formas de fazer ciência, há diversas possibilidades de ensiná-la também”, explica Ana Clara. “O principal resultado do projeto é demonstrar que a ciência, o científico, pode contribuir para a valorização dos povos indígenas e seus conhecimentos”, prosseguiu. Segundo ela, as portas com as comunidades seguem abertas para novas pesquisas e contribuições.

Segundo a pesquisadora, em suas atividades cotidianas, os indígenas utilizam vários elementos naturais, cujas características e propriedades se configuram como objetos de estudo da Química. “Os materiais utilizados pelos indígenas são retirados diretamente da natureza e assim se consegue fazer um paralelo entre a cultura indígena, a defesa da posse da terra pelos indígenas e os cuidados ambientais”, afirmou a pesquisadora.

A pesquisa foi encerrada, formalmente, com a construção de material didático digital em forma de livreto. Ele aborda os temas dos povos indígenas, povos indígenas no Brasil, povos indígenas no Maranhão, terra Indígena Araribóia, o povo Tentehar/Guajajara e os saberes indígenas e a transformação da matéria: saberes das pinturas corporais.

Premiada na categoria Jovem Cientista, Ana Clara, que está no começo da sua trajetória acadêmica, disse que a premiação foi um incentivo importante. “O reconhecimento da FAPEMA para com o nosso projeto foi de grande significância, me senti extremamente orgulhosa de toda a trajetória até o momento de premiação”, destacou. “A premiação serviu como grande aliado para incentivar a vontade em continuar contribuindo com as pesquisas”, prosseguiu. “A pesquisa avança com outros projetos que estão sendo desenvolvidos, com o envolvimento outros atores”, concluiu.

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