A pesquisa “Efeitos dos sucos de frutas do cerrado maranhense na viabilidade de cepas probióticas e em modelos de endotoxemia experimental” foi financiada por meio do edital FAPEMA 31/2016 – Edital Universal
Adrielle Zagmignan
Doutora em Biotecnologia pela rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia legal, (PPG-BIONORTE/Universidade CEUMA). Mestre em Biologia Parasitária com ênfase em Imunologia e Microbiologia (CEUMA). Especialista em Saúde da Família e Saúde do Trabalhador. Graduação em Enfermagem (CEUMA). Professora do Núcleo Docente Estruturante e do colegiado do curso de Nutrição da Universidade CEUMA, com atuação nos programas de pós-graduação em Biologia Microbiana e Gestão de Programas e Serviços de Saúde, nas áreas de Imunologia, Fisiologia, Genética, Embriologia e Anatomia Humana.
O Brasil possui um dos maiores repertórios de frutas do mundo, constituindo uma vasta quantidade de frutas tropicais e exóticas com aromas e sabores únicos. E, dentre os inúmeros frutos presentes no Cerrado Maranhense, destacam-se o bacuri e o cupuaçu. O alto valor antioxidante, além de outras propriedades farmacológicas dos compostos presentes na polpa desses frutos, tem sido demonstrado em alguns estudos com folhas e sementes de suas plantas.
Isso levou Adrielle Zagmignan, doutora em Biotecnologia pela rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia legal (PPG-BIONORTE/CEUMA), a realizar a avaliação das propriedades desses frutos por meio de uma modulação da microbiota intestinal, em conjunto com a técnica conhecida como endotoxemia – inflamação experimental induzida por lipopolissacarídeo.
Orientada pelo professor doutor Luís Cláudio Nascimento da Silva, a pesquisa demostra que agentes derivados dos sucos de bacuri e de cupuaçu são capazes de auxiliar no combate de disfunções inflamatórias.
“Buscamos avaliar a viabilidade e produção de ácidos orgânicos por cepas probióticas nos sucos de cupuaçu e bacuri e analisar os efeitos dos sucos fermentados em modelos de endotoxemia usando camundongos e larvas de Tenebrio molitor [larva da farinha]”, informou Adrielle Zagmignan.
O projeto foi concebido com o intuito de obter um melhor entendimento do potencial biotecnológico de frutas do cerrado, além da obtenção de formulações padronizadas e inovadoras com essas plantas. O trabalho conquistou o Prêmio FAPEMA/2021 na categoria Tese de Doutorado – Ciências Biológicas. Ele foi realizado a partir da seleção de extratos derivados das polpas dos dois frutos que já tinham apresentado potencial antioxidante e anti-inflamatório in vitro. O estudo avaliou a ação dos melhores extratos sobre a microbiota intestinal visando determinar o efeito dos extratos sobre a endotoxemia induzida por lipopolissacarídeo.
“A pesquisa também teve o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da região pela valorização de suas plantas como fonte de biorecursos”, revela a pesquisadora. “A iniciativa possibilita a ampliação e aprofundamento de linhas de pesquisa, resultando no aumento do número de produtos científicos e tecnológicos; formação e fixação de recursos humanos no Maranhão e publicação de artigos científicos, contendo os resultados, em revistas de circulação internacional com corpo editorial”, completa Adrielle Zagmignan.
Já foram publicados quatro capítulos de livro e um artigo científico”, conta Adrielle Zagmignan. Adicionalmente, os resultados referentes ao trabalho com P. insignis (bacuri) foram publicados na revista Foods (Fator de Impacto 4,350) e podem ser acessados em: https://www.mdpi.com/2304-8158/10/3/603/htm.
Adrielle Zagmignan destaca que o trabalho aumentou o conhecimento sobre o potencial biotecnológico de compostos derivados de plantas pouco estudadas do cerrado maranhense. O projeto teve um caráter multidisciplinar, envolvendo as áreas da bioquímica, microbiologia, imunologia, patologia e ciências farmacêuticas e acarretou em contribuições diversas com o conhecimento sobre a interação microbiota/hospedeiro que auxiliaram no combate a doenças inflamatórias; formação e na capacitação de pesquisadores (em iniciação científica, mestrado e doutorado) na área de desenvolvimento de fármacos, considerada estratégica para o Brasil.
Metodologia
Os experimentos foram realizados nos laboratórios de pesquisa da Universidade CEUMA no período de 2018 a 2020. Destaca-se o uso da fermentação utilizando bactérias lácticas – uma ferramenta emergente para obtenção de formulações bioativas a partir de produtos vegetais. Essa abordagem vem sendo utilizada para aprimorar as características antimicrobianas, antioxidantes e imuno-moduladoras de várias farinhas de cereais e de leguminosas, bem como de plantas medicinais.
A pesquisa foi iniciada com a coleta das frutas do cerrado maranhense, em especial a polpa do cupuaçu e do bacuri. Primeiramente foram confirmados o potencial antioxidante dessas frutas. Logo após, foi realizado a fermentação dos sucos das polpas citadas com duas linhagens de lactobacilos (Lacticaseibacillus rhamnosus ATCC 9595 e Limosilactobacillus fermentum ATCC 23271) bem como foi realizado análise físico-química da polpa das frutas.
Em seguida foi realizado experimento in vivo com camundongos, quando foi realizada a administração profilática dos sucos, posteriormente à indução da endotoxemia por lipolissacarídeo. “Assim, neste trabalho foi demonstrado os efeitos benéficos da ingestão de curto prazo do suco de cupuaçu fermentado por L. rhamnosus em um modelo de choque séptico”, diz Adrielle Zagmignan.
A pesquisadora apontou, ainda, como pontos relevantes do trabalho, a sua contribuição para o desenvolvimento do Maranhão pela valorização de suas plantas como fonte de biorecursos, a formulação de produtos naturais como fontes de medicamentos para a sociedade e para a economia e a promoção e divulgação do conhecimento científico adquirido por meio de intercâmbio entre os participantes das diferentes instituições envolvidas no projeto.
