Revista Inovação FAPEMA

Rede pública municipal em desarmonia com ensino crítico da História

A pesquisa resultou na elaboração de e-book com propostas metodológicas contemporâneas

Foram investigadas as representações de professores de escolas públicas sobre a História e o ensino da disciplina

Delcineide Segadilha

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre na mesma área pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde se licenciou em História.

Graduada em Pedagogia, é professora da UFMA no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Departamento de Educação I.

Coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa: Fundamentos e Metodologia do Ensino de História na Educação Básica (GRUPEHEB), atua, principalmente, nos  temas: história da educação (cultura escolar, representações), ensino de História, avaliação de políticas e instituições educacionais.

Um método ainda muito utilizado no ensino da disciplina História, na Educação Básica, é a memorização de fatos e datas. E isso tem levado, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a sentimentos de apatia e descrédito por parte dos estudantes.  Essa é uma das premissas que levaram à concepção projeto do pesquisa “Representações de docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre História e ensino da disciplina História: teorização e proposições metodológicas”. O trabalho é coordenado pela professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Delcineide Maria Ferreira Segadilha, doutora em Educação. “É preciso que se perca o medo de assumir que não estamos satisfeitos com os resultados do ensino”, afirma a pesquisadora.

Delcineide investigou, entre 2019 e 2023, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), as representações de professores de escolas públicas sobre a História e o ensino da disciplina nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Monção. “Buscamos identificar as concepções de história e do seu ensino para verificar como se realiza essa relação entre consciência histórica, cultura escolar e os saberes dos professores dos anos iniciais da educação básica”, explica Segadilha.

 Insuficiência

De acordo com a cientista, os resultados da pesquisa revelaram que os professores de História do 5º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas ainda enfrentam um alto nível de superficialidade e confusão teórico-metodológica no ensino da História.

Apesar das diferenças observadas entre os municípios, o estudo concluiu que os professores dos municípios pesquisados compartilham a representação de História e, consequentemente, da disciplina como o ensino do passado. “Trata-se de uma representação marcada pela superficialidade e ausência de conceitos e categorias da História como disciplina”, reflete a pesquisadora. “Isso é preocupante pois compromete o alcance dos reais objetivos do ensino da disciplina”, afirma Delcineide. “A História é uma disciplina que trabalha com conceitos e categorias relevantes para a formação humana e social”, prossegue.

“Assim, consideramos como insuficiente o ensino de História em nossas escolas públicas”, sintetiza Segadilha. “É preciso atribuir significado ao que se ensina em História, com bases científicas e não pelo senso comum”, complementa. “A análise e interpretação são deixadas de lado, apesar da compreensão atual, de que um ensino mais crítico da História possibilita a ideia de processo e de construção social”, destaca.

O Grupo de Estudo e Pesquisa: Fundamentos e Metodologia do Ensino de História na Educação Básica promoveu ações de formação de professores

Políticas de formação

Para alcançar esses resultados, a pesquisadora adotou uma abordagem qualitativa, exploratória, combinando pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Os dados foram coletados através de questionários, complementados por formações com os professores participantes. A análise dos dados foi realizada com o auxílio do software Iramuteq, utilizando técnicas como a Classificação Hierárquica Descendente (CHD), Análise de Similitude e Nuvem de Palavras.

A pesquisadora trabalhou com 124 professores que lecionam História e que correspondem a 50% (cinquenta por cento) do quantitativo de profissionais que atuam no 5º ano das redes municipais dos municípios investigados.

O estudo aponta que os professores são, em sua maioria, mulheres, com experiência docente, com formação em pedagogia, pós-graduação e vínculo laboral efetivo. “Infelizmente, a leitura dos resultados demonstra a necessidade de que se questione as políticas públicas educacionais relativas à formação inicial e continuadas dos professores”, avalia Delcineide.  “É importante que seja assegurada essa formação pelas secretarias municipais de educação”, assinala.

A pesquisa foi desenvolvida em parceria com os integrantes do Grupo de Estudo e Pesquisa: Fundamentos e Metodologia do Ensino de História na Educação Básica (GRUPEHEB) da UFMA e resultou na elaboração de um e-book com proposições metodológicas para o ensino da História para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental. O e-book encontra-se na fase de finalização da produção visual para lançamento ainda neste ano. “O nosso propósito foi contribuir de modo prático e objetivo com o trabalho dos docentes”, afirma Delcineide. “As sugestões não significam nenhuma forma de engessamento, mas de opções que poderão indicar caminhos de pesquisa e criação”, finaliza.

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