Revista Inovação FAPEMA

Plataforma digital possibilita a inclusão socioeducacional de pacientes em tratamento com hemodiálise

Margareth Santos Fonseca

Mestra em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (IESF), Planejamento Educacional (Universidade Salgado Filho) e Supervisão Escolar (FACIMP), com graduação em Filosofa (UFMA). É membro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPED), integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica (PPGEEB/UFMA) Atua na coordenação pedagógica da classe hospitalar ABC Nefro para alunos-pacientes com Doença Renal Crônica na Unidade de Cuidados Renais do Hospital Universitário da UFMA (HUUFMA).

A doença renal crônica constitui atualmente um importante problema de saúde pública. No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa de diálise, segundo o último censo divulgado em 2018 pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, aumentou de forma exponencial, com mais de 130 mil pessoas atingidas. A doença tem um elevado impacto na qualidade de vida dos pacientes submetidos à terapia renal substitutiva como a hemodiálise. Para a maioria dos pacientes, a rotina se restringe a consultas médicas, exames, sessões de hemodiálise e execução de atividades pouco significativas.

Pensando em desenvolver estratégias de intervenção educacional para estudantes em tratamento de hemodiálise, com vistas à construção de uma plataforma digital de gestão de ensino, a mestra em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Margareth Santos Fonseca, desenvolveu a sua pesquisa entre 2017 e 2018 com recursos próprios.

A pesquisa rendeu a Margareth Fonseca o prêmio de melhor Dissertação de Mestrado na área de Ciências Humanas, Sociais e Linguística Letras e Artes da edição do Prêmio Fapema 2019 Terezinha Rêgo.

“Como servidora pública da Secretaria Municipal de Educação de São Luís e atuando na coordenação pedagógica da classe hospitalar ABC Nefro, desde a sua implantação em 2013, tivemos a oportunidade de acompanhar o processo de construção de saberes e fazeres das professoras e dos alunos/pacientes”, disse.  Assim, segundo Margareth Fonseca, “tornou-se imperativa a adaptação curricular, com uso de recursos pedagógicos adequados às necessidades relacionadas ao contexto, bem como da autonomia do aluno em face de aprendizagem na sala de hemodiálise”.

Ela considerou as condições clínicas dos alunos, a estrutura ambulatorial, o tempo pedagógico, bem como a formação profissional docente. “Submetemos um projeto de pesquisa ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão de Ensino da Educação Básica da UFMA cujo objeto foi a classe hospitalar ABC Nefro, denominada, para fins do estudo , como o conjunto formado por alunos em tratamento de hemodiálise, pelas professoras e pelo currículo”, citou.

De acordo como a pesquisadora, foi possível investigar o impacto da doença renal crônica na vida do paciente e da família; conhecer o perfil socioeconômico dos pacientes e a prática pedagógica no cotidiano de trabalho das professoras. “Priorizamos os conhecimentos necessários e adequados à realidade de vida dos pacientes, sujeitos da pesquisa, com possibilidades reais de sua reinserção social, em uma perspectiva de educação humanizada e emancipadora”, pontuou.

Resultados e benefícios

Na avaliação de Margareth Fonseca, o trabalho foi extremamente importante para a comunidade investigada e representa um avanço na pesquisa científica no estado. A criação da plataforma SEIdigital permitiu um gerenciamento de desempenho presencial e à distância de estudantes, professores e outros profissionais atuantes em classes hospitalares. 

O estudo é dirigido a questões relevantes sobre um segmento da população maranhense, excluída socioeconomicamente do alcance a bens de saúde e culturais. “Uma das razões pelas quais acreditamos que a Plataforma SEIdigital possibilita a inclusão socioeducacional de pessoas que não conseguem chegar à escola, por limitações de saúde, é o fato dela se constituir como ferramenta com possibilidades democráticas de inclusão educacional de pessoas enfermas”, assegurou a pesquisadora.

Como benefícios da pesquisa, a pesquisadora aponta a adaptação curricular para a classe hospitalar em estudo, a partir dos interesses e necessidades do público-alvo; a elaboração de um plano de formação docente, para a integração das tecnologias ao currículo escolar e a construção de um recurso tecnológico como suporte à criatividade e inovação na gestão do ensino em classes hospitalares. 

Margareth Fonseca conta que devido ao desdobramento, o tempo da pesquisa foi ampliado, com vistas a se investir na criatividade e inovação da gestão do ensino em classe hospitalar. “Consideramos que dispositivos digitais móveis se constituem enquanto ferramentas socializadoras de conhecimentos, recursos didáticos adequados ao protocolo do ambiente hospitalar e à restrita mobilidade motora do paciente, durante as sessões de hemodiálise”, destacou.

O processo de formação ocorreu em serviço, pela necessidade de realizar um trabalho interdisciplinar. “Observamos, que a inclusão de recursos socializadores de conhecimento (dispositivos digitais móveis) obteve plena aceitação na comunidade investigada, notadamente pelos alunos”, complementou a pesquisadora. 

Metodologia de pesquisa

A pesquisa teve como metodologia a pesquisa-ação e intervenção com abordagem qualitativa e quantitativa. Também foi utilizada a análise de conteúdo com base em alguns teóricos como Thiollent, Corraza, Triviños, Minayo, Bardin, além de estudo bibliográfico, observação do participante e análise documental com recorte temporal de 2013 a 2016. “Constituiu-se de uma intervenção aplicada, envolvendo 14 estudantes em tratamento de hemodiálise, na faixa etária de 15 a 72 anos e cinco professoras do ensino público municipal”, frisou.

Em relação à pesquisa empírica, relatórios, planejamentos didáticos e ficha social do paciente foram utilizados como fontes primárias. “Definimos três grupos de categorias de análise: fluência na leitura e escrita (pesquisa com os alunos); concepções sobre as práticas pedagógicas (pesquisa com as professoras) e a proposta curricular da Educação de Jovens e Adultos, adotada pela SEMED [Secretaria Municipal de Educação] de São Luís”, apontou. 

“Usamos, ainda, como instrumentos de geração de dados, o questionário sociodemográfico; teste de desempenho escolar; leitura de palavras do contexto hospitalar; entrevista semiestruturada, assim como o programa Stastistical Package for the Social Sciences”, revelou.

A intervenção pedagógica fundamentou a construção do produto da pesquisa a partir de uma adaptação curricular disposta em três eixos temáticos, que integraram a proposta em rede da SEMED: cultura e identidade; saúde e qualidade de vida, e tecnologia digital como ferramenta pedagógica. “O método didático consistiu no uso de sequências didáticas, com base na concepção freireana de educação, incluindo escuta pedagógica; problematização; organização e aplicação do conhecimento”, prosseguiu. “Os recursos didáticos mais utilizados foram livros, tablets, notebooks, celular, vídeos, textos, hipertextos, podcast, entre outros”, enfatizou a pesquisadora. 

Após analisar diferentes variáveis, Margareth Fonseca obteve a seguinte caracterização em relação aos estudantes: condição socioeconômica de baixa renda (100%); 71,4% caracterizada pelo sexo feminino sem nenhum vínculo empregatício; 78,6% se ausentaram do trabalho em decorrência doença renal crônica; 21,4% exercem atividade eventual na agricultura familiar; faixa etária de 14 a 17 anos de idade; dificuldades de memória (92,8%); baixo desempenho em leitura e escrita (50%); 28% de internações recorrentes  e taxa de 35,7% com mais de 10 anos de tratamento dialítico. Os indicadores de apoio familiar indicam que apenas 14,2% dos entrevistados não contam com apoio familiar; 50% convivem em união estável e 21,4% são casados.

 “Enquanto isso, em relação às professoras, todas têm especialização e experiência com educação de jovens e adultos; não possuem curso na área da saúde e iniciaram suas atividades sem capacitação prévia em pedagogia hospitalar”, revelou. 

Prêmio FAPEMA

A mestra em Gestão de Ensino da Educação Básica falou com entusiasmo sobre a realização da 19ª do Prêmio FAPEMA. Segundo ela, tal incentivo tem contribuído significativamente para divulgar a produção acadêmica e ampliar o campo de pesquisa pela melhoraria dos indicadores sociais do Maranhão. “A escolha da pesquisadora professora doutora Terezinha Rego como homenageada demonstra o reconhecimento de que o diálogo entre os saberes se constitui elemento essencial no fazer ciência pela valorização do conhecimento”, afirmou.

“Receber o Prêmio FAPEMA, é uma grande honra para mim, assim como para a minha orientadora, a professora Lívia da Conceição Costa Zaqueu”, avaliou. “Este estudo envolveu muitas pessoas e instituições e compartilho esta premiação com o Hospital Universitário do Maranhão, o Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica da UFMA, a Secretaria Municipal de Educação de São Luís, meus familiares, amigos e colaboradores, em nome de meu esposo Franck Mattos, que foi familiar, colaborador e amigo”, concluiu.

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