Revista Inovação FAPEMA

O conhecimento tradicional de pescadores artesanais de piaba em Pinheiro

As informações podem subsidiar políticas de gestão dos recursos pesqueiros da região

O intenso extrativismo da piaba, o manejo das comportas da barragem, o descarte de lixo e a bubalinocultura são alguns dos problemas detectados

Pedro Lucas de Souza

Estudante do curso Tecnológico em Aquicultura do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Maracanã, onde concluiu o curso técnico na mesma área.

Integra o Núcleo de Maricultura (NUMAR) do IFMA.

Tradição e saberes na linguagem científica denominam-se “etnoconhecimento”. O seu resgate possibilita planejar o futuro, com base na compreensão das relações e percepções das comunidades tradicionais sobre o meio ambiente e a cultura.

E foi com a caracterização do etnoconhecimento dos pescadores artesanais de piaba (Astyanax cf. bimaculatus) que atuam no município de Pinheiro, na região da baixada maranhense, que o estudante do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Maracanã, Pedro Lucas de Souza, conquistou o Prêmio Fapema 2023, na categoria Pesquisador Júnior. “Foi uma realização muito importante porque me motivou, ainda mais, a fazer pesquisa e buscar conhecimento”, afirmou. “Representou um marco importante no meu momento de transição do curso técnico em Aquicultura para o ensino superior no curso de Tecnólogo em Aquicultura, me deixando mais engajado para avançar na minha carreira acadêmica”, continuou.

Anos e anos de prática das comunidades pesqueiras enriqueceram o conhecimento tradicional que abrange fatores do ambiente e das espécies que ali residem. “É importante valorizar esse conhecimento e associá-lo ao conhecimento científico para a formulação de políticas públicas adequadas a essas comunidades e às espécies de importância ambiental e social que se encontram ali”, ressaltou o pesquisador.

Pedro Lucas desenvolveu o seu trabalho sob orientação da professora Izabel Funo, doutora em Recursos Pesqueiros e coordenadora do Núcleo de Maricultura (Numar) do IFMA Campus Maracanã, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA). “Após finalizar o ensino médio, fui em busca da minha motivação estudando os organismos aquáticos, iniciando, em 2022, o curso Técnico em Aquicultura no IFMA”, informou Lucas. “Depois de alguns meses ingressei no Numar como bolsista e, em 2024, no curso superior de Tecnólogo em Aquicultura”, prosseguiu.

“Estudos científicos sobre o perfil desses pescadores já vinham sendo realizados, mas não havia um estudo acerca da importância da piaba e do etnoconhecimento desses pescadores na região”, apontou. Ele realizou o seu trabalho entre agosto de 2022 e julho do ano passado. Foram realizadas entrevistas com os pescadores em Pinheiro e os resultados foram analisados estatisticamente com técnicas de análise descritiva, gerando quadros, tabelas e gráficos.

“Descobrimos que a pesca da piaba é praticada, majoritariamente, por homens com faixa etária, predominante, entre 46 e 55 anos”, informou. “A maioria possui apenas o ensino fundamental incompleto, com renda média inferior a um salário mínimo”, destacou. “A piaba é a segunda das seis espécies mais coletadas, com predominância no período chuvoso, com uso de apetrechos simples, como a tarrafa, a malhadeira e o caniço”, assinalou. “Quanto à percepção ambiental dos pescadores, os problemas apontados são o intenso extrativismo da espécie, manejo das comportas da barragem, descarte de lixo doméstico e a bubalinocultura”, ressaltou.

A valorização desse conhecimento possibilita a elaboração de políticas públicas voltadas a esses pescadores visando à sua melhoria da qualidade de vida, bem como à preservação da piaba. Pedro pretende prosseguir em novas ações com pesquisas no Numar sobre a reprodução da espécie e participação em oficinas de piscicultura para os pescadores da comunidade.

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