A descoberta aponta para surgimento de novas abordagens terapêuticas para a saúde da mulher
Rui Miguel da Costa
Pós-doutoramento no Fred Hutchinson Cancer Research Center (EUA). Doutorado em Ciências Biomédicas e mestrado em Oncologia (Universidade do Porto/Portugal). Graduado em Medicina Veterinária (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/Portugal).
Exerceu Medicina Veterinária no Reino Unido e lecionou em universidade portuguesas. Foi professor visitante sênior do Programa de Pós-Graduação em Saúde do Adulto/Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde atua, desde 2023, como professor do Departamento de Morfologia da UFMA. Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Fisiopatologia e Farmacologia Clínica e Experimental (UFMA).
Área de interesse: histologia e patologia básica e translacional, aliadas ao desenvolvimento de terapias e estratégias preventivas para neoplasias génito-urinárias.
As complexidades da saúde feminina têm sido cada vez mais estudadas na pesquisa médica. Um estudo inovador revelou uma ligação entre doenças cardíacas em mulheres na menopausa e o vírus do papiloma humano (HPV). Ela destaca a importância de considerar esse fator de risco na saúde cardiovascular desse grupo específico. A descoberta aponta para o surgimento novas abordagens terapêuticas e alerta para a necessidade de políticas de saúde mais direcionadas e eficazes.
O estudo, intitulado ‘Envolvimento do HPV na doença arterial coronariana em mulheres climatéricas: atenção à saúde no Maranhão’, foi conduzido pelo professor do Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Rui Miguel Gil da Costa, doutor em Ciências Biomédicas. A pesquisa obteve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e da Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio do edital ‘Programa Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde (PPSUS)’. As descobertas revelaram que mulheres na menopausa e com HPV apresentam maior propensão ao desenvolvimento de doenças coronárias.
Foram avaliadas 71 pacientes climatéricas, revelando uma prevalência de HPV de 36,6% entre as participantes, correlacionando significativamente a presença do vírus com a doença coronariana. A pesquisa também investigou microvesículas circulantes no sangue das pacientes, sugerindo uma possível relação causal entre HPV e doenças cardíacas, o que requer investigação adicional para ser completamente compreendido.
Além dos aspectos científicos, o estudo aponta para implicações diretas nas políticas de saúde, destacando a necessidade de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce, direcionadas a esse grupo específico de mulheres. A conscientização sobre a importância da vacinação contra o HPV e o acompanhamento cardiovascular durante a menopausa tornam-se fundamentais para abordagens mais eficazes e personalizadas.
“Esta descoberta da relação entre HPV e condições cardiovasculares oferece uma base sólida para o desenvolvimento de protocolos de tratamento personalizados e de políticas de saúde mais direcionadas. À medida que avançamos na compreensão da saúde feminina, este estudo destaca a importância de uma abordagem integrada para o trato das doenças cardíacas, nesta população específica”, ressalta Rui Gil da Costa.
A pesquisa tem implicações importantes no âmbito das políticas de saúde. A partir da descoberta, os responsáveis pela formulação das políticas podem considerar a inclusão de estratégias de prevenção e rastreamento, direcionadas às mulheres na menopausa, para detecção precoce e intervenções mais eficazes. “A conscientização sobre a importância do controle do HPV, além do acompanhamento cardiovascular, deve ser promovida proporcionando uma abordagem mais abrangente à saúde da mulher”, observa o professor.
Paralelamente, a partir da identificação dessa conexão entre doenças cardíacas, menopausa e HPV, os profissionais de saúde têm uma base de apoio para desenvolver protocolos de tratamento personalizados. Abordagens mais específicas podem ser implementadas, levando em consideração, tanto os fatores hormonais da menopausa, quanto a presença do HPV, melhorando, assim, a eficácia dos tratamentos e reduzindo os riscos associados.
Mais avanços
O estudo conseguiu estabelecer que mulheres na menopausa, que estejam infectadas pelo papilomavírus humano (HPV), apresentam um risco significativamente maior de desenvolverem placas de ateroma (manifestações da aterosclerose) nas artérias coronárias. Essas placas são formadas por colesterol e gordura e podem bloquear a passagem de sangue nessas artérias, causando angina de peito e enfartes do miocárdio. A questão agora é esclarecer como o HPV pode causar estas lesões nas artérias do coração. “O nosso grupo propôs a hipótese de que as células infectadas por HPV no colo do útero e vagina podem libertar microvesículas que entram na circulação sanguínea e podem causar as lesões observadas. Isolamos essas microvesículas e estamos a estudar o seu conteúdo”, explica o pesquisador.
O professor Rui Gil aponta a necessidade de ampliar o estudo a outras populações, para que se perceba o impacto do HPV. Ele pretende, ainda, analisar os mecanismos pelos quais a doença leva a lesões e identificar substâncias no sangue que possam ser marcadores de pacientes em risco, acrescido de lesões cardíacas.
Artigo científico sobre o tema foi aceito para publicação na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, o que contribuirá para ampliar os debates sobre o tema, fora do país. A Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia é uma publicação científica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Ela tem como público-alvo ginecologistas, obstetras e profissionais de áreas afins, tendo como objetivo a publicação de resultados de pesquisas sobre temas relevantes nessas áreas.