Revista Inovação FAPEMA

Pesquisa analisa doença de gatos e riscos potenciais à saúde humana

Os resultados do estudo têm o potencial de orientar políticas públicas de saúde veterinária

A pesquisa confirmou a alta prevalência da esporotricose entre os felinos e permitiu identificar padrões de comportamento e características clínicas

Allana Freitas Barros

 

Doutoranda e mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde se graduou em Medicina Veterinária.

Estudos na área de micologia clínica e doenças infecciosas na identificação fenotípica e molecular de Sporothrix spp em felinos na Ilha de São Luís.

Experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase nas áreas de Histologia, Citopatologia Animal e Micologia.

A esporotricose, doença que atinge gatos e pode facilmente afetar o ser humano, é tema da tese de doutorado em Ciência Animal, da pesquisadora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Allana Freitas Barros. Intitulado ‘Caracterização clínica, cito-histomorfológica e molecular da esporotricose felina na ilha de São Luís-MA’, o estudo foi motivado pela alta incidência da doença em gatos atendidos no Hospital Veterinário da universidade. O estudo, que conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), chama atenção para a doença, que tem grandes fatores de risco ao ser humano.

A esporotricose é uma infecção causada principalmente pelo fungo Sporothrix brasiliensis. Afeta diversas espécies de animais, com destaque para os felinos, e representa um risco potencial para os humanos. O fungo habita a natureza e está presente no solo, palha, vegetais, espinhos, madeira e outros elementos. As características da infecção nos gatos são feridas na região do rosto e patas, que podem se espalhar pelo restante do corpo. Também pode haver perda de apetite, emagrecimento, espirros e secreção nasal. A contaminação do homem ocorre principalmente através do contato direto com as lesões, arranhadura e mordedura do animal doente.

Os gatos são os principais responsáveis pela transmissão para o ser humano, uma vez que têm maior facilidade de entrar em contato com o patógeno, devido aos hábitos de afiar as unhas em plantas ou escavar o solo; e ainda, por ser uma espécie muito presente no ambiente familiar. Os felinos são também a principal vítima da doença, pois evoluem geralmente para o quadro mais severo da doença devido à alta adaptação do fungo à espécie e à desistência de tratamento dos animais doentes por parte dos tutores.

“A pesquisa não só confirmou a alta prevalência da esporotricose entre os felinos de São Luís, mas também nos permitiu identificar padrões de comportamento e características clínicas que podem auxiliar na prevenção e manejo da doença”, explica Allana Barros. A pesquisadora aponta que gatos machos não castrados, com livre acesso à rua, são os mais vulneráveis à doença.

Os resultados do estudo têm o potencial de orientar políticas públicas de saúde veterinária na região. O intuito é somar nas medidas de controle e prevenção eficazes da doença, aponta a pesquisadora. A pesquisa foi orientada pelas professoras Ana Lúcia Abreu Silva, doutora em Biologia Parasitária (Fiocruz) e Larissa Sarmento dos Santos Ribeiro, doutora em Biodiversidade e Biotecnologia (Bionorte).

Allana Barros ressalta o apoio da Fapema como “fundamental na realização do estudo, especialmente por meio da concessão da bolsa de doutorado, que permitiu a dedicação exclusiva para realização da pesquisa”, complementando que  esse tipo de investimento em capital humano e pesquisa científica “é essencial para o desenvolvimento regional e para a melhoria da saúde animal e pública”.

Procedimentos

O trabalho envolveu a análise de amostras de felinos com lesões sugestivas de esporotricose, que foram submetidas a exames laboratoriais detalhados, incluindo citologia, cultura fúngica e exame de reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificação precisa do agente causador. A forma clínica mais comum observada foi a cutânea disseminada, presente em aproximadamente 70% dos gatos avaliados. Além das típicas lesões na pele, alguns animais apresentaram sintomas respiratórios, como lesões em mucosa nasal e episódios de espirro, o que indica uma possível disseminação sistêmica do fungo em casos mais graves.

Na avaliação do fenótipo (aparência visível) dos gatos, realizada com cultivo fúngico, foram observadas características do gênero Sporothrix, como escurecimento gradativo da colônia ao longo do seu desenvolvimento. “Isso tem relação com a avaliação microscópica com hifas septadas, delgadas e hialinas com microconídios ovais e arredondados, organizados em forma de margarida”, afirma a pesquisadora. As amostras foram encaminhadas para análise molecular, que confirmou a espécie S. brasiliensis como responsável pela esporotricose felina em nossa região.

Risco humano

A esporotricose, além de afetar a saúde dos animais, representa um desafio para a saúde pública, uma vez que pode ser transmitida aos seres humanos, através do contato com lesões cutâneas contaminadas. Portanto, medidas preventivas, como a castração de gatos e restrição de acesso à rua, são essenciais para reduzir a incidência da doença tanto em animais quanto em pessoas.

Impacto e ações futuras

O estudo de Allana Barros tem reflexos nos estudos das zoonoses, fornecendo dados para a compreensão da distribuição e gravidade da doença. A caracterização clínica, fenotípica e molecular das infecções permite identificar padrões específicos e variações genéticas do patógeno, o que é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento mais eficazes.

Além disso, a pesquisa contribui para a conscientização sobre a importância do manejo adequado da doença, ajudando a reduzir a transmissão entre animais e humanos. Reforça a necessidade de abordagens para combate da esporotricose, pois interfere diretamente na saúde humana, animal e ambiental, orientando para a necessidade da implementação de políticas de controle e programas de vigilância.

A pesquisadora aponta ações futuras em relação ao trabalho, que contemplam a identificação de resistência dos isolados de Sporothrix brasilienses aos antifúngicos comumente utilizados, a fim de ajustar protocolos terapêuticos e evitar o uso de tratamentos ineficazes. Também inclui a pesquisa de novos compostos antifúngicos e avaliação da sua eficácia e segurança em modelos pré-clínicos.

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