O protagonismo científico das mulheres maranhenses conta com o apoio da Fundação
Ao longo dos anos, as mulheres têm buscado ocupar mais espaços em todas as áreas e, no âmbito da pesquisa científica, isso não tem sido diferente. A atuação das mulheres remete ao ano de 2.700 a.C com a médica Merit Ptah, passando por Marie Curie e tantas outras cientistas que marcaram épocas e que, até hoje, inspiram o grande contingente feminino a seguir os mesmos passos.
As mulheres brasileiras são a maioria da população há 27 anos e, hoje, representam cerca de 54% dos estudantes de cursos de doutorado no Brasil. Nas pesquisas nas áreas das ciências da vida e da saúde elas são mais de 60% (de acordo com dados do artigo Mulheres na ciência no Brasil: ainda invisíveis?, de autoria da pesquisadora Fernanda de Negri, do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea). Elas, também, são maioria nos cursos de graduação e pós-graduação.
São mulheres que têm mudado a história e ajudado a construir uma sociedade melhor e mais justa, com pesquisas que têm impactado na vida das pessoas. No Maranhão, mais de 50% dos projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) são coordenados por pesquisadoras. Mulheres como Ana Angélica Macêdo, Luciane Brito e Zafira de Almeida, homenageadas do Prêmio FAPEMA-2021, e tantas outras que estão presentes em todas as regiões do Maranhão realizando pesquisas nas mais diferentes áreas.
“A temática do Prêmio Fapema deste ano – ‘Mulheres Cientistas do Maranhão’ – é um reconhecimento e incentivo ao protagonismo das mulheres”, destacou o diretor-presidente da FAPEMA, André Santos. Escolhidas por meio de consulta popular, essas três pesquisadoras representam, segundo André Santos, todas as maranhenses que têm trabalhos importantes e com eles têm contribuído para o desenvolvimento do Maranhão e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Em comum entre elas, há muito trabalho, determinação e o amor pelo que fazem. E, entre os resultados dos trabalhos das homenageadas no prêmio, estão as inúmeras pesquisas, orientações e a contribuição acadêmico-científica com um papel determinante na criação de programas de pós-graduação nas áreas que atuam”, prosseguiu.
A solenidade de entrega do Prêmio FAPEMA/2021 aconteceu no dia 03 de dezembro no Teatro Artur Azevedo, de forma hibrida com transmissão pelas redes sociais da Fundação. “O trabalho que a Fapema faz é belíssimo, eu sempre digo que ela é a nossa principal apoiadora, porque 80% dos nossos recursos são financiados por ela”. afirmou, na solenidade, a professora Angélica Macêdo.
A homenagem in memoriam a Luciane (falecida em fevereiro deste ano) foi recebida por sua filha Haissa Brito de Oliveira. Em seu discurso no palco, Haissa lembrou de toda a dedicação da sua mãe com a pesquisa, que ela pôde acompanhar desde a infância, e, emocionada, destacou o importante legado que ela deixou bem como o impacto da sua ausência: “Além de uma grande professora ela foi uma grande mãe, quando ela faleceu não fui só eu que fiquei órfã, vários alunos também ficaram”, afirmou.
Zafira de Almeida, que se encontrava hospitalizada no dia do evento, foi representada pelo seu marido Cláudio Leão Torres. Ele destacou a dedicação da sua esposa para a pesquisa, que mesmo acometida de doença terminal continuou trabalhando e produzindo. “Zafira é uma guerreira, está lutando até o dia em que puder lutar”. Ela faleceu nove dias após o evento.
Os desafios e os caminhos trilhados
Trilhar o caminho da pesquisa não é uma tarefa fácil, pois exige muito trabalho e determinação. E a questão de gênero já não é o grande desafio a superar, pois outros surgiram, como a escassez de recursos por parte do governo federal e que, no Maranhão, tem sido, na medida do possível, compensado com os recursos advindos do Governo do Estado por meio da FAPEMA. O compromisso dos pesquisadores maranhenses em dar continuidade a seus trabalhos de pesquisa tem sido determinante para superar os obstáculos porque todos entendem que a pesquisa não pode parar.
“A pesquisa transforma e tenho a alegria de ter muitos alunos seguindo esse caminho e também contribuindo para essa transformação”, disse a professora doutora do IFMA com o maior número de patentes depositadas e com mais de 50 projetos em andamento, Ana Angélica Macêdo. Com doutorado em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia, Ana Angélica é professora do Instituto Federal do Maranhão campus Imperatriz e a única professora do Instituto com Bolsa de Produtividade do CNPq.
Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), tem forte atuação nas áreas de Química, Bioquímica e Materiais, com destaque para pesquisas com compósitos (pó, gel, filme e esponja) e cerâmicas, com importante contribuição na formação de professores e metodologia de ensino.
As mulheres têm desbravado o mundo da ciência. A professora doutora Zafira da Silva de Almeida desde cedo sabia que queria trabalhar com animais marinhos. O interesse pelas Ciências do Mar surgiu mesmo antes de ter o entendimento do que se tratava e que, na verdade, era o seu amor pela Oceanografia.
Ao longo dos últimos anos, Zafira Almeida construiu uma trajetória com uma importante contribuição acadêmico-científica para o crescimento e o desenvolvimento pesquisa. Seu trabalho já lhe rendeu várias homenagens e conquistas no Prêmio FAPEMA, nas edições dos anos de nas edições de 2019, 2018, 2016, 2013, 2012 e 2010. “A FAPEMA está de parabéns por essa iniciativa de homenagear as mulheres cientistas maranhenses, sinto-me muito honrada por ser lembrada”, disse Zafira, logo após o anúncio da homenagem em julho deste ano.
A marca dessas mulheres já integra a história das cientistas maranhenses. A professora doutora Luciane Brito, por exemplo, deixou um importante legado na área médica. Foi a primeira doutora do departamento de Medicina III da UFMA e a primeira doutora em Ginecologia do Maranhão. Os seus interesses de pesquisa se concentram nas patologias ginecológicas associadas ao envelhecimento, bem como no estudo do câncer, em particular as neoplasias induzidas pelo HPV, captando financiamento do CNPq, FAPEMA e CAPES. No seu legado destaca-se, ainda, as atividades do Biobanco de Tumores e DNA do Maranhão (BTMA), o primeiro banco de tumores do Nordeste, do qual foi fundadora e que coordenou até encerrar a sua trajetória.
Entre as homenagens recebidas ao longo de sua vida, destaca-se a que lhe foi conferida em Copenhagen (Dinamarca), por sua atuação na Promoção à Saúde da Mulher, pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia – FIGO. Em 2001 representou a FEBRASGO na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.
Em 1993 foi eleita membro titular do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA), sendo reeleita por três gestões consecutivas, tendo deixado, espontaneamente, o órgão em 2013. Em 2005, conseguiu aprovar a criação do curso do Mestrado em Saúde da Mulher, do Adolescente e da Criança e redenominado pela CAPES em Programa de Pós-graduação (PPG) em Saúde Materno-Infantil (PPGSMIN). Atualmente este PPG designa-se Programa de Pós-Graduação em Saúde do Adulto (PPGSAD). Dentre os projetos desenvolvidos neste PPG, destaca-se o Programa de Cooperação Acadêmica – PROCAD/NOVAS FRONTEIRAS/2007 “Em Atenção Oncológica” do qual foi coordenadora pela UFMA. A natureza deste programa permitiu que graduandos, pós-graduandos e docentes realizassem missões de estudos e estágio curriculares, mobilidade acadêmica e disciplinas que interagiam entre programas de pós-graduação. Ressalta-se, ainda, neste PROCAD, a modalidade mestrado-sanduíche e o pós-doutorado no Instituto Nacional do Câncer.
Luciane Brito teve mais de 120 artigos científicos publicados. Alguns destes artigos estudam a incidência da infeção por HPV em pacientes de comunidades desfavorecidas ou em lesões cervicais, anais e penianas. Ainda na linha de pesquisa em HPV, destaca-se o artigo que revelou a incidência excecionalmente elevada da infeção por HPV em pacientes com câncer de pénis no Maranhão. Na área de ginecologia-endocrinologia, destaca-se a publicação de artigo pioneiro que explora os mecanismos quase totalmente ignorados pelos quais os hormônios sexuais femininos condicionam a febre em animais experimentais. São legados importantes que servirão de base para muitas para trabalhos de novos pesquisadores.
Confira, a seguir, a história das três pesquisadoras narradas por elas próprias.