Pesquisa contribui para desconstrução de estereótipos e promoção de sociedade igualitária
Rute Lages Gonçalves
Doutoranda em Estudos Literários pela Universidade do Estado de Mato Grosso e mestre em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde se graduou na mesma área.
Experiência no ensino básico, médio tecnológico em língua portuguesa e inglesa e suas literaturas.
Pesquisadora das literaturas produzidas por mulheres negras em países de língua oficial portuguesas e produção literária de escritores negros na Europa.
Em um cenário marcado pela busca por justiça social e igualdade racial, a pesquisa de mestrado de Rute Lages Gonçalves, realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), destaca-se por sua relevância e impacto social. Através da análise do romance “Esse Cabelo”, da escritora Djaimilia Pereira de Almeida, a pesquisadora mergulha no universo das mulheres negras e suas vivências em diáspora, tecendo um olhar crítico sobre o racismo, a violência e a invisibilidade que permeiam suas realidades.
No Maranhão, onde setenta por cento da população se autodeclara preta, a pesquisa assume ainda maior relevância. Ao estudar a obra de uma autora negra, mesmo que não brasileira, a pesquisadora amplia o debate sobre o racismo e a violência de gênero na literatura e na sociedade, temas que se configuram como desafios globais para as mulheres negras.
A obra, escrita em primeira pessoa e tendo como protagonista Milla, uma mulher negra que narra sua trajetória de vida desde a infância em Angola até sua migração para Portugal, serve como base para a análise sob a ótica do feminismo negro da autodefinição. Através da voz de Milla, a autora expõe as lutas e desafios enfrentados pelas mulheres negras em diferentes contextos, destacando a importância da representatividade e do empoderamento feminino negro na literatura e na sociedade.
“A pesquisa, além de trazer à tona as problemáticas vivenciadas pelas mulheres negras, também contribui para a desconstrução de estereótipos e a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. Os resultados obtidos demonstram como a literatura pode ser um instrumento poderoso de transformação social, dando voz àqueles que historicamente foram silenciados”, avalia Rute Gonçalves.
Com o apoio da FAPEMA, Ruth Gonçalves pôde aprofundar seus estudos e contribuir para o conhecimento científico sobre a temática. Atualmente em doutoramento, ela amplia sua pesquisa, ao analisar outra obra de Djaimilia – “Luanda, Lisboa, Paraíso” -, com foco nas questões culturais de mulheres e sujeitos afrodiaspóricos. “O incentivo à ciência e produção realizado pela FAPEMA no Maranhão transforma vidas, a sociedade e sinto muita gratidão por todo o crédito”, pontua.
A pesquisa é um marco importante na luta pela representatividade das mulheres negras na literatura e na sociedade. Seus resultados servem como base para novas reflexões e ações em prol da justiça social e da igualdade racial.
Nova perspectiva
A escrita de Djaimilia Pereira de Almeida em “Esse Cabelo” se configura como um exercício decolonial, questionando os saberes hegemônicos e propõe novas perspectivas sobre a realidade das mulheres negras. A autora dá voz a uma personagem complexa e multifacetada, que desafia os estereótipos e apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa.
Ao narrar a história de Mila a partir de sua própria perspectiva, Djaimilia contribui para a descolonização do saber e para a construção de um novo imaginário social, mais justo e inclusivo. O romance se torna, assim, uma ferramenta importante na luta anti-racista e na construção de um futuro mais promissor para as mulheres negras.