Revista Inovação FAPEMA

A energia que vem das escamas de peixe

Arthur Vinícius Sousa Silva

Mestrando em Engenharia Mecânica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), graduado em Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (2017) e Engenharia Mecânica (2019) pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Desenvolveu trabalhos na área de linguística por meio de análise computacional. Atualmente trabalha com a caracterização das propriedades físico-químicas e térmicas de escamas de peixes e utilização em sistemas de termo-conversão, com finalidade bioenergética; emissões gasosas e/ou formação de poluentes em diferentes processos termoquímicos (combustão e pirólise). Também desenvolve trabalhos na área de biomassas em geral para fins bioenergéticos. 

Gerar bionergia a partir de escamas de peixes. Esse foi o estudo que rendeu, a Arthur Silva, o Prêmio Fapema 2019 na categoria Jovem Cientista, área de Ciências Exatas e Engenharias. O trabalho vem sendo realizado desde 2018 sob orientação do professsor Glauber Cruz (da Universidade Federal do Maranhão) e, atualmente, estão sendo realizados estudos a respeito das emissões de poluentes, resíduos e cinzas gerados após a queima do material.

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do processo BIC – 04989/18 e tem o objetivo de avaliar as propriedades térmicas, físico-químicas, morfológicas e estruturais da escama de peixe. Além disso, o trabalho busca evitar desperdícios e fornecer um destino adequado e ambientalmente amigável para esse tipo de resíduo sólido.

O Maranhão é um dos maiores produtores de peixes do Brasil e dos resíduos que surgem devido ao processamento do pescado”, ressaltou Arthur. “O descarte em locais inadequados, como lixões, por exemplo, pode resultar em mau cheiro, decomposição de matéria orgânica e proliferação de doenças ou animais peçonhentos”, prosseguiu o jovem cientista. “Assim, para evitar as consequências desse rejeito, trabalhamos nessa proposta de reutilização para geração de energia”, prosseguiu.

Estudo inédito

De acordo com Arthur, não foram encontrados estudos anteriores a respeito da aplicação da escama de peixe para geração de energia. “A maior parte de estudos sobre biomassas tem foco nos resíduos de origem vegetal, como bagaço de cana, cascas de café e arroz”, afirmou. “Ha poucos estudos envolvendo escamas de peixes, mas nenhum envolve o seu uso como biomassa para geração de energia proveniente de sua queima”, afirmou.

A pesquisa, de caráter experimental, contou com a realização de uma série de ensaios laboratoriais. “Houve a preparação das amostras por meio de lavagem, secagem em estufa, moagem e peneiramento, partindo em seguida para as etapas de análise das características térmicas e físico-químicas do material”, explicou o pesquisador. Por meio desse processo, foram determinados os principais constituintes orgânicos e inorgânicos, quantidade de energia produzida, estrutura cristalográfica, características morfológicas, teores de umidade, materiais voláteis e cinzas. “Também identificamos a presença de metais e das principais etapas de degradação do material”, relatou Arthur.

A atuação do meu orientador foi essencial ao desenvolvimento da pesquisa”, ressalta Arthur. “Foi dele a proposta do projeto e da metodologia aplicada partiram”, mencionou. “Mesmo sabendo das dificuldades por se tratar de um estudo novo, acompanhou de perto cada etapa, sempre com as suas contribuições”, avaliou.

Resultados

De acordo com a pesquisa, a biomassa apresentou características positivas, com adequado poder calorífico, baixo teor de enxofre e quantidade considerável de cálcio. “Isso sugere uma baixa emissão de poluentes”, assinalou Arthur. As amostras apresentaram a presença de cálcio, fósforo, sódio e magnésio na composição, além de um elevado teor de cinzas em comparação a outros materiais. “Esses resíduos podem ser utilizados para fabricação de cimento, cerâmica, estabilização do solo e produção de fertilizantes”, destacou o jovem cientista.

Foi possível avaliar as escamas de peixe e fazer uma comparação, do ponto de vista energético, com outras biomassas, e obter informações para que se possa usar essa matéria-prima em reatores termoquímicos para geração de bioenergia e os resíduos em outros processos industriais”, prosseguiu.

Benefícios

Na avaliação do pesquisador, os benefícios do trabalho são muito relevantes. “A utilização dessas matérias-primas permite o aproveitamento energético, impede desperdícios e evita sérios problemas ambientais”, afirmou Arthur. Segundo o pesquisador, o trabalho promove, ainda, o desenvolvimento técnico-científico para o estado. “Há formação de recursos humanos na graduação e pós-graduação, inserindo o Maranhão no mapa da produção de energia limpa para o país, pela utilização de fontes renováveis provenientes de pesquisas genuinamente maranhenses”, assinalou.

Para o campo da pesquisa, o nosso trabalho fornece informações ao campo da bioenergia provinda de biomassas desse material, uma vez que não há, na literatura, estudos sobre utilização da escama de peixe em processos de queima para geração de energia”, ressaltou.

O pesquisador pretende expandir o estudo para outros diferentes materiais, considerados, de forma geral pela sociedade como resíduos sem utilidade. “Queremos contribuir para o desenvolvimento e meio ambiente e buscar também, métodos, para melhorar a eficiência do que já estudamos do ponto de vista energético”, concluiu.

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