Revista Inovação FAPEMA

Qualificar para educar em um mundo conectado

Professora do IEMA aplica transmídias no ensino após experiência em Portugal

A superação de barreiras geracionais e tecnológicas propicia uma infinidade de possibilidades para aprender e para ensinar.

Francilma Ewerton

Cursa mestrado em Educação na Fundação Universitária Iberoamericana. Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais Digitais pela Universidade de Coimbra. Licenciada Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professora de Sociologia no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA). Palestrante em Harvard e MIT, na Brazil Conference em 2024, sobre os impactos transformadores da Educação. Integra o Hub de Lideranças do Instituto Votorantim. Atua na concepção e implementação de projetos socioambientais e educacionais. Ênfase em Educação para as relações étnico-raciais, inclusão no contexto digital aplicado à educação e empoderamento dos estudantes negros de periferia.

A formação continuada sempre foi necessária na docência e essa necessidade se acentua à medida que as tecnologias se desenvolvem em uma velocidade cada vez maior. Professores de ensino fundamental e médio precisam compreender novas linguagens que nem existiam durante a sua graduação mas que já são intuitivamente compreendidas por seus estudantes, que cresceram com um smartphone em mãos.

Essas barreiras geracionais e tecnológicas existem, mas quando o professor consegue superá-las se depara com uma infinidade de novas possibilidades para aprender e para ensinar. Por isso, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA) lançou o Programa Professor Cidadão do mundo em 2022, para contribuir com os professores nessa etapa.

Com um investimento de R$1,2 milhão, o Governo do Maranhão possibilitou que 47 professores que atuam em escolas da rede municipal, estadual e federal participassem de capacitações em Portugal (Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais na Universidade de Coimbra e Robótica no Instituto Politécnico do Porto). Além das passagens e da concessão de bolsa para custear as despesas do dia-a-dia em outro país, o Governo também disponibilizou recursos para compras de materiais que seriam utilizados para aplicar, nas escolas do Maranhão, o conhecimento apreendido nessa experiência internacional.

A professora Francilma Ronetia Barbosa Marinho Ewerton, do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) – Unidade Itaqui Bacanga, foi uma das contempladas pelo edital. Ela participou da capacitação em Metodologias Ativas e desenvolveu o projeto “Narrativa Transmídia no processo de ensino e aprendizagem de adolescentes: da teoria sociológica ao engajamento transformador”. Sua participação enriqueceu o seu currículo e lhe garantiu a oportunidade de proporcionar novas possibilidades de aprendizado aos seus alunos. Isso demonstra o potencial da formação continuada e da aplicação de novas tecnologias para promover um ensino mais inclusivo e engajador.

A narrativa transmídia ou narrativa transmidiática é aquela que se desenrola por meio de múltiplos canais de mídia, cada um deles contribuindo de forma distinta para a compreensão do universo narrativo.

A trajetória de Francilma rumo às metodologias ativas e ao uso de transmídias teve início em 2020, quando participou de uma formação em audiovisual no Canal Futura, voltada aos professores. Essa experiência despertou nela a percepção do potencial na aprendizagem dos estudantes, o que a levou a buscar formas de aplicar esses conhecimentos em sala de aula. “Quando saiu o edital do Professor Cidadão do Mundo, vi uma oportunidade de aperfeiçoar minha prática docente, associando as narrativas transmídias com as metodologias ativas e utilizando tecnologias educacionais digitais”, conta a professora.

A constatação de que os estudantes mostravam pouco interesse por aulas tradicionais, que se restringiam ao uso de livros, slides e quadro branco, impulsionou Francilma a buscar alternativas que promovessem maior engajamento e uma aprendizagem mais significativa. “Precisávamos de engajamento e de uma aprendizagem mais significativa”, afirma.

Experiência em Portugal

A experiência de Francilma em Portugal foi transformadora tanto em sua vida profissional quanto pessoal. Durante sua especialização em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais Digitais na Universidade de Coimbra, ela teve a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos e estabelecer conexões com profissionais de diversas partes do mundo. “Foi a primeira vez que tive a oportunidade de sair do Brasil e, além da Universidade de Coimbra, investi do meu próprio recurso na minha formação e fiz networking com profissionais do mundo inteiro em um bootcamp sobre FabLab”, relata.

A educadora participou de qualificação em Portugal, por meio do Programa Professor Cidadão do Mundo da Fapema

Esse bootcamp, realizado em uma cidade próxima a Coimbra, proporcionou um mês de atividades intensas, pesquisa e aprendizado, ampliando ainda mais a bagagem de conhecimentos da professora.

Impacto no ensino e na comunidade escolar

Ao retornar ao Brasil, Francilma desenvolveu uma disciplina eletiva interdisciplinar intitulada “Aquilombar”, que envolveu Sociologia, Geografia, História e Filosofia, com a participação de cinquenta e seis estudantes. Além disso, elaborou um projeto de pesquisa e extensão chamado “Intercâmbio e cultura: uma análise entre os Quilombos Damásio e Liberdade-MA”, que abordou o letramento racial e digital.

O impacto desse trabalho foi significativo. “Foi interessante notar que, embora a Lei 10.639/03 exija o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, não é fácil encontrar material pedagógico interativo e gamificado para estudantes do ensino médio”, explica Francilma. O uso de tecnologias educacionais digitais, incluindo componentes de gamificação, permitiu uma aprendizagem mais inclusiva e engajada, beneficiando especialmente estudantes com deficiência, como autistas com altas habilidades.

Para Francilma, é fundamental que os governos municipais e estaduais invistam na formação continuada dos professores, especialmente aqueles que atuam em escolas com menores índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e indicadores de equidade educacional. Ela sugere que futuras seleções para programas de formação continuada não priorizem apenas a meritocracia curricular, mas considerem também a inclusão de docentes negros, quilombolas e indígenas, que muitas vezes atuam em contextos educacionais mais desafiadores.

A professora enfatiza a importância de inserir tecnologias no ambiente educacional, destacando como elas podem transformar a dinâmica de sala de aula. “Comparando o trabalho de um professor em sala de aula com outras profissões, como a de um médico ou uma recepcionista, que podem atender várias pessoas ao dia, nós, professores, temos que dar conta da aprendizagem de 40 a 45 estudantes ao mesmo tempo, durante todo o dia”, conclui.

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