Elisiene Castro Matos
Doutora e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde se graduou em Educação Artística. Professora do Departamento de Artes Visuais da UFMA, onde coordena o curso de Artes Visuais EAD. É membro da Comissão Maranhense de Folclore e do Laboratório de Estudos de Elites Políticas e Culturais da UFMA.
A tese de doutorado, vencedora do Prêmio FAPEMA Terezinha Rêgo – 2019, na categoria Ciências Humanas e Sociais, insere-se na agenda de pesquisas do Laboratório de Estudos sobre Elites Políticas e Culturais (LEEPOC/UFMA) acerca da vinculação entre domínios culturais e políticos no Maranhão. A tese “Intérpretes da ‘Cultura Popular’ e a Produção de Memórias no Maranhão” foi desenvolvida pela professora doutora Elisene Castro Matos. Ela explica que a proposta do trabalho foi examinar os processos e investimentos na consagração de porta-vozes, intérpretes, produtores e expressões culturais, que resultam na construção de um panteão da “cultura popular” maranhense.
“Analisamos uma coleção de livros intitulada ‘Memória de velhos’, por meio da qual apreendemos, igualmente, a complexidade de operações que interferem na dinâmica de fabricação de ‘memórias’, consubstanciada na produção de livros, no Maranhão”, conta Elisene Matos. A coleção é formada por sete livros, publicados entre 1997 e 2008, reunindo depoimentos que, selecionados, compõem as memórias dos homenageados, vulgos “mestres da cultura popular”. O conteúdo dos livros consiste em entrevistas autobiográficas, imagens e gravuras.
As “memórias” identificadas na coleção “Memórias de Velhos”, apresentadas como sendo dos “mestres” e, em alguns casos, dos próprios intérpretes da “cultura popular”, segundo Elisene Matos, “são construções que dizem quem representa esta ou aquela ‘manifestação popular’, este ou aquele ritual”. Ou seja, são construções que definem os “principais donos de grupos de bumba-meu-boi”, “as mais antigas casa de culto das religiões de matriz africanas”, “os verdadeiros representantes da cultura alcantarense”, “os melhores artesãos”, “os mais antigos brincantes” e “os incentivadores e pesquisadores da cultura popular”. “Pelo que percebemos, existem, no processo de seleção dessas ‘memórias’, escolhas geralmente determinadas pelas relações sociais que os ‘produtores da cultura popular’ possuem com os intérpretes”, pontua a pesquisadora.
O trabalho resultou em participação, em dezembro do ano passado, no 3º Simpósio Internacional Interdisciplinar em Cultura e Sociedade. No evento, foi apresentada a palestra “Fabricação da ‘cultura popular maranhense’ através da coletânea de livros ‘Memória de Velhos’. A pesquisa também levou à publicação, no livro “Estudos sobre Elites Políticas Culturais”, de um dos capítulos da tese, intitulado “Edificação da cultura popular maranhense: redes, perfis biográficos e investimento na publicação de livros”.
Metodologia
A pesquisa foi realizada entre 2015 e 2019 no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da UFMA. A professora conta sobre a precaução em encontrar instrumentos teóricos que permitissem recusar a linguagem corrente e as noções comuns que definem e classificam o mundo social. “A metodologia seguiu uma agenda de pesquisa, que permitiu regular as pré-noções ao romper com as opiniões primeiras que se carrega, em decorrência do nível de envolvimento com grande parte dos agentes que foram analisados”, explicou.
“Algumas rupturas e estratégias analíticas foram fundamentais, especialmente, pelo fato de termos mantido, por um considerado espaço de tempo, uma relação de proximidade e envolvimento com o universo empírico analisado”, prosseguiu. “Em relação à tentativa de objetivação das propriedades dos agentes, utilizamos em nossa análise o método prosopográfico, que é considerada uma técnica de sistematização e de análise de dados sobre grupos historicamente situados” assinalou. “Com isso, buscamos revelar as características comuns, permanentes ou transitórias, de um determinado grupo social em dado período histórico”, destaca a pesquisadora.
Sobre o reconhecimento do seu trabalho pelo Prêmio FAPEMA, Elisene Matos afirmou ter sido “uma consagração das pesquisas empreendidas pelos professores do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da UFMA”.