Pesquisa traça panorama atualizado das populações da família Phyllostomidae do mamífero alado
Amanda Cristiny Lima
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Pará (UFPA) e mestra em Ciência Animal pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Especialista em Ciências Ambientais e Conservação da Natureza pela FAMEP (PI) e em Biologia Celular e Molecular pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI).
Graduada em Ciências Biológicas pela UEMA Campus Caxias, atua na área de Genética Animal, Biologia Molecular, Morfologia e Bioinformática, com ênfase no estudo de morcegos da família Phyllostomidae.
Os morcegos são criaturas que fascinam. Por serem os únicos mamíferos a possuírem a habilidade de voar e apresentarem adaptações biológicas únicas para sobrevivência em ambientes escuros, a percepção ao redor deles desperta o interesse de artistas e pesquisadores. A mística do animal passou a ser retratada na ficção desde o horror gótico do final do século XIX, em Drácula de Bram Stoker, bem como nas ruas de Gotham City no universo de quadrinhos do Batman, a partir de 1919. Porém, em séculos anteriores, a fisiologia e o estudo acerca das milhares de espécies no planeta já eram foco de estudos em laboratórios em todo o mundo.
Tendo em vista que podem se alimentar de insetos, frutas, néctar e peixes, os mamíferos voadores desempenham um papel central na polinização de plantas e no controle da população de pragas agrícolas. Seu papel na manutenção da saúde dos ecossistemas não pode ser subestimado, visto que muitas vezes a sua presença afeta diretamente a saúde de florestas e cavernas de vários biomas.
Em virtude dessa grande importância, é fundamental que os estudos científicos sobre o tema estejam sempre atualizados. Conhecer profundamente a população e a diversidade dessa espécie é o primeiro passo para se planejar políticas governamentais de proteção adequadas. E, na pesquisa aplicada desenvolvida nas universidades públicas do país, estão sendo obtidas grandes descobertas. Amanda Cristiny da Silva Lima, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Campus Caxias, produziu uma dissertação de mestrado que apresentou um panorama atualizado sobre a presença e distribuição dos animais, obteve resultados inéditos e foi reconhecida através do Prêmio FAPEMA 2023.
O seu trabalho teve como objetivo fundamental caracterizar a diversidade de morcegos pertencentes à família Phyllostomidae nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga. “Nosso grupo de estudo vem se dedicando ao estudo desse grupo de animais, que ainda carece de literatura aprofundada, não só no Brasil como, também, no nosso estado. Através do trabalho, descobrimos e disponibilizamos uma série de informações vitais para a preservação ambiental”, destaca a pesquisadora.
Metodologia e resultados
Foi realizada uma série de expedições, em diversas áreas do Maranhão e Piauí, com emprego de redes de neblina de diferentes tamanhos para a captura dos morcegos, permitindo a coleta de um conjunto representativo de espécimes para análise.
Cada morcego capturado foi submetido a uma série de análises, incluindo a determinação da idade, sexo, estado reprodutivo e avaliação morfológica detalhada. Além disso, foi coletado tecido muscular para análises moleculares, visando contribuir para a compreensão genética e taxonômica dessas espécies.
Destaca-se o inédito registro da presença da espécie Sturnira tildae no estado do Maranhão, representando não apenas um novo registro para a região, mas também ampliando o conhecimento sobre a distribuição geográfica dessa espécie.
Sturnira tildae, conhecida também como morcego-da-fruta-de-dorso-branco, é uma espécie que pertence à família Phyllostomidae, caracterizada por sua coloração distintiva e hábitos alimentares frugívoros. Compreender a presença e a distribuição de espécies como Sturnira tildae é crucial para identificar áreas de alta biodiversidade e implementar medidas de proteção que garantam a sobrevivência desses animais e a integridade dos ecossistemas em que habitam.
Além disso, a análise molecular permitiu a delimitação de espécies para os morcegos da família Phyllostomidae, identificando um total de 30 espécies nominais, com base em 227 sequências geradas para o gene COI. Esses resultados, aliados a técnicas estatísticas de discriminação de espécies, representam um avanço significativo no entendimento da diversidade genética e taxonômica desses animais. Além disso, a pesquisa proporcionou uma compreensão mais abrangente da ecologia e distribuição geográfica das espécies de morcegos no estado do Maranhão, gerando dados valiosos para futuros estudos e ações de conservação.
Para Amanda, a sua pesquisa, assim como o reconhecimento do Prêmio Fapema, serve para conscientizar a população acerca do importante papel ambiental desenvolvido pelo mamífero e para combater a desinformação “É preciso desmistificar a ideia de que todo morcego transmite raiva ou faz mal ao ser humano, pois é, na verdade, uma espécie que tem muito a contribuir e deve ser protegida”, conclui a pesquisadora.