Revista Inovação FAPEMA

A influência da salinidade no cultivo do sururu

Pesquisa foi realizada por estudante do IFMA vencedora do Prêmio FAPEMA 2023

O estudo sobre o índice da concentração de sais dissolvidos na água é crucial para o cultivo e extração de moluscos, por sua sensibilidade a alterações ambientais

Melissa de Moraes Câmara

Licenciada em Ciências Agrárias pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), onde cursou, também, Técnico em Agropecuária no  Campus Maracanã.

Integra o Núcleo de Maricultura (NUMAR) da instituição, onde desenvolve pesquisas relativas ao cultivo de organismos aquáticos, tais como a ostra, sururu, peixes, microalgas, artêmias e pesca artesanal de mariscos.

Através do IFMA, realizou serviço cívico de reciprocidade, com duração de oito meses, em duas instituições de ensino agrícola na França.

O Maranhão é um estado de muitas riquezas naturais e imateriais. Localizada em uma região de confluência entre vários ecossistemas, como o da Amazônia e do Cerrado, a região possui temperaturas elevadas e chuvas abundantes, o que resulta em um ambiente perfeito para o ecossistema do manguezal, que se constitui como uma transição entre o ambiente terrestre e o marinho.

Esse ecossistema é o habitat ideal para o desenvolvimento de populações de várias espécies diferentes de moluscos. Dentre essas espécies, destaca-se a Mytella strigata, ou como é (muito bem) conhecida pelo povo maranhense: o sururu! Esse marisco possui um papel central na manutenção e sustentabilidade do ecossistema do manguezal, atuando como filtrador de água e habitat para pequenos organismos. Sua contribuição pode ser sentida até mesmo depois da morte, tendo em vista que, em sua decomposição, nutrientes essenciais para ambientes costeiros são devolvidos à natureza, o que influencia diretamente no ciclo biogeoquímico e ajuda a sustentar a produtividade local.

Nas riquezas imateriais do Maranhão, a contribuição do sururu também é gigantesca: ele é o ingrediente principal de uma série de receitas, como o caldo, o arroz e o bobó, que enriquecem o extenso catálogo gastronômico e um dos maiores atrativos turísticos do estado.

Além do turismo, a cadeia produtiva do sururu e de outras espécies de moluscos também movimentam a economia e possuem um papel crucial no desenvolvimento local. A pesca artesanal e o cultivo sustentável são áreas de atuação que aliam o conhecimento tradicional, o empreendedorismo e o que há de mais moderno em tecnologia e inovação para o setor, através do trabalho diário dos pesquisadores de diferentes níveis que atuam em grupos de pesquisa em instituições de ensino superior, com apoio do Governo do Estado através da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA).

Ana Melissa de Moraes Câmara é uma pesquisadora atuante nessa área de estudo. Técnica em Agropecuária pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA, 2015-2017), recentemente concluiu o curso de Licenciatura em Ciências Agrárias pela mesma instituição (2018-2023).

As amostras foram obtidas com o auxílio de coletores artificiais localizados no estuário de Paricatiua (Bequimão) e analisadas na sala de experimentos do laboratório

 

Com um currículo acima da média, ela participou, ao longo dos 4 anos de graduação, de mais de 10 projetos de pesquisa na área de ostreicultura e piscicultura, analisando métodos de cultivo e extrativismo de muitas espécies de moluscos predominantes nos manguezais do estado.

A sua pesquisa rendeu uma rica produção que se divide entre apresentações e resumos publicados em congressos, capítulos de livros e artigos científicos em periódicos de renome. “Mesmo antes de entender o que é a pesquisa, eu já era apaixonada por ela, principalmente pela área de organismos aquáticos. Mas foi quando eu entrei no Núcleo de Maricultura (Numar) que eu aprendi o que era fazer pesquisa científica e peguei ainda mais gosto”, ressalta Melissa.

O destino da jovem pesquisadora, com o reconhecimento por seus pares da academia, foi obtido naturalmente. Em 2021, Ana Melissa conquistou o Prêmio FAPEMA na categoria Popvídeo Ciências pelo seu trabalho sobre a influência da densidade de estocagem no crescimento da ostra Crassostrea gasar no município de Bequimão. Em 2023, no ano em que concluiu sua graduação, a cientista conseguiu repetir o feito. Venceu o Prêmio FAPEMA na mesma categoria, com a pesquisa sobre a influência da salinidade no crescimento e sobrevivência do sururu.

O estudo sobre o índice da concentração de sais dissolvidos na água é crucial para o cultivo e extração de moluscos, pois esses organismos são muito sensíveis a alterações ambientais em seu habitat. Um ambiente com os níveis de sais ideais permite mais eficiência nas taxas de crescimento e reprodução, além de garantir a saúde de animais como o sururu e a própria sustentabilidade do ambiente em que eles se encontram.

O objetivo geral do trabalho de Melissa foi avaliar o efeito de diferentes níveis de salinidade sobre o crescimento da Mytella strigata em laboratório, analisando a altura da concha e peso vivo. Além disso, a pesquisadora buscou determinar a taxa de sobrevivência do molusco em ambientes com diferentes concentrações de sais. As amostras foram obtidas com o auxílio de coletores artificiais localizados no estuário de Paricatiua (Bequimão) e analisadas na sala de experimento do Laboratório do Núcleo de Estudos do Mar, no Campus São Luís Maracanã do IFMA.

Resultados

As análises evidenciaram a influência na salinidade no desenvolvimento dos moluscos. As mudanças nos níveis influenciaram diretamente tanto no crescimento das valvas (peças que compõem a concha do animal) quanto no ganho de peso. A pesquisa também observou os limites mínimos e máximos possíveis nos níveis de salinidade que possibilitam a sobrevivência do sururu. Uma das principais descobertas é a possibilidade de exploração da espécie em áreas marinhas, mais afastadas dos centros urbanos e da poluição por rejeitos e resíduos. “Espera-se que esse trabalho possa instigar outros pesquisadores a trabalharem com o cultivo desta espécie nativa e que, baseados nos nossos resultados, possam fazer outras descobertas importantes”, destaca Ana Melissa.

A pesquisadora premiada conta que o apoio da FAPEMA para a prática científica é fundamental tanto para subsidiar novas descobertas quanto para garantir que o pesquisador trabalhe com tranquilidade. “Um apoio como esse é fundamental. Além de subsidiar, por exemplo, equipamentos de laboratório, viagens a campo, materiais para o trabalho de campo e participação em eventos científicos, a concessão de bolsas ainda permite que o aluno se dedique completamente à pesquisa tendo à disposição o que for necessário pra a sua execução,” explica a cientista. Ela também comentou sobre a alegria com mais um reconhecimento através do Prêmio FAPEMA. “Foi emocionante, sei que tem muita coisa pela frente na minha caminhada acadêmica, mas ter terminado a graduação assim me dá um alívio e uma sensação de dever cumprido.” agradece.

Confira, a seguir, a explicação de Melissa, em vídeo, sobre a pesquisa.

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