Revista Inovação FAPEMA

COURO ECOLÓGICO DE TILÁPIA: INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL COM RESÍDUOS DA PESCA

Matéria prima dá origem à bijuterias, bolsas, calçados e vestuários

O processo de curtimento de curtimento segue etapas bem delineadas

Marlyne Garcia Franco

Graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Experiência na área de Zootecnia. Coautora dos livros Curtimento de peles de peixe: transformações da pele em couroe Curtimento de pele de peixes: sistema tegumentar em peixes“, editados pela EDUEMA, em 2023.

Transformar resíduos da indústria pesqueira em produto sustentável, com valor agregado e potencial para geração de renda. Esse é o objetivo de um projeto desenvolvido pela pesquisadora Marlyne Garcia Franco, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), que propõe metodologias para a produção de couro ecológicoa partir da pele da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) como forma de geração de renda em comunidades maranhenses. O couro obtido pelo processo de curtimento resulta em um produto nobre de alta qualidade, com boa resistência e difícil imitação podendo ser utilizado na confecção de bolsas, calçados, vestuários e bijuterias. 

A pesquisa, que teve a orientação da professora doutora Nancyleni Bezerra, conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e representa um avanço nas tecnologias sustentáveis de curtimento de peles, reduzindo o uso de insumos químicos agressivos ao meio ambiente, como o cromo. Paralelamente, cria oportunidades de trabalho

“O curtimento de pele é considerado uma alternativa sustentável de aproveitamento de subprodutos das empresas agroindustriais. A transformação das peles de peixe em couro, pelo processo de curtimento ecológico, vem tomando um lugar de uso de materiais químicos. Além de abrir novas frentes de trabalho, o desenvolvimento dessa tecnologia recicla e agrega valor comercial a um material que vai para o lixo, explica Marlyne Garcia. Vai agregar também, resultados culturais, sociais, ambientais e contribuir para o desenvolvimento sustentável de uma comunidade“, acrescenta a pesquisadora

Para substituir os produtos químicos tradicionalmente usados no curtimento, o projeto utiliza insumos naturais, encontrados em abundância no Maranhão. As cascas da aroeira (Schinus terebinthifolius) e do cajueiro (Anacardium occidentale) são testadas como fontes taníferas, ou seja, como agentes responsáveis pela fixação das fibras de colágeno na pele. Já o pericarpo do babaçu (Attalea speciosa) é utilizado como acidulante e a folha do mamão papaia (Carica papaya) atua como enzima proteolítica no processo de purificação da pele. 

Marlyne Franco explica que o processo de curtimento segue etapas bem definidas, incluindo desde a preparação das peles brutas até o acabamento final. Cerca de 300 kg de peles de tilápia, doadas por uma rede de supermercados da cidade de São Luís, foram utilizadas na pesquisa. A metodologia inclui tratamento das peles com soluções naturais e controle com sais de cromo o que permitirá avaliar a eficácia e segurança dos métodos alternativos

Ao final do processo, o couro ecológico é submetido a secagem e amaciamento. Os pesquisadores utilizam nata de leite de búfala, mais um exemplo do uso de produtos regionais e sustentáveis“, destaca

Além da produção científica, o projeto tem um forte componente de extensão. Com a metodologia validada, os pesquisadores promoveram oficinas teóricopráticas na Unidade Plena Dom Hamleto de Angelis, do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), no município de Viana. A iniciativa capacitou cerca de 100 estudantes do curso técnico em Recursos Pesqueiros, que também participaram da confecção de artigos artesanais com o couro ecológico produzido

Segundo os idealizadores, a ação busca fomentar a economia criativa, promover práticas sustentáveis e incentivar a formação técnica qualificada, especialmente em regiões com intensa atividade pesqueira, como Viana e Matinha

O projeto representa um passo importante na busca por soluções locais para problemas ambientais e econômicos. Ao transformar resíduos da cadeia produtiva do pescado em um material versátil e de alto valor comercial, a pesquisa alia conhecimento científico à valorização da biodiversidade e da cultura regional

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