Revista Inovação FAPEMA

Estudo analisa questão agrária e conflitos socioterritoriais no sul do Maranhão

Vanderson Viana Rodrigues

Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG) da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Pós-graduado em Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade pela Universidade Cândido Mendes – UCAM (RJ). É graduado em Geografia Licenciatura pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Foi bolsista de iniciação científica pela UEMA e pela Fundaçao de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA). Desenvolveu pesquisas na Mesorregião Sul Maranhense, sobre Conflitos Socioterritoriais, Campesinato, Comunidades Tradicionais, Reforma Agrária e Movimentos Sociais. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Questão Agrária e Movimentos Sociais (UEMA) e do Grupo de Pesquisa: Territorialização Camponesa na Amazônia (UEPA)

Levantar e analisar os principais conflitos socioterritoriais envolvendo os camponeses e os sojicultores em razão da territorialização e espacialização da agricultura técnico-científica globalizada no município de Balsas no Maranhão. Esse foi o estudo desenvolvido pelo geógrafo e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Questão Agrária e Movimentos Sociais da Universidade Estadual do Maranhão (GEPQAM/UEMA) e do Grupo de Pesquisa Territorialização Camponesa na Amazônia (GPTECA/UEPA), Vanderson Viana Rodrigues, e que lhe rendeu o Prêmio Fapema na edição 2019 Terezinha Rêgo na categoria Jovem Cientista.

Orientado pelo professor Ademir Terra, entre 2018 e 2019, por meio do edital BIC QUOTA UEMA 2018 solicitado à FAPEMA, o trabalho tem como foco as dinâmicas de territorialização e os processos de mudança nos modos de produção, como transformações espaciais provocadas pelas práticas dos atores sociais.

” O prêmio é uma grande celebração que destaca o protagonismo dos trabalhadores e trabalhadoras da ciência do estado, que a ‘ferro e fogo’ desenvolvem suas pesquisas”

De acordo com o pesquisador, o estudo, que após cinco anos já foi finalizado, iniciou-se em 2015 no seio de discussões e análises do Grupo de Estudos e Pesquisas GEPQAM/UEMA, com relação aos dados de conflitos e confrontos agrários do estado do Maranhão. Eles foram disponibilizados, ano a ano, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) como vertente do projeto intitulado “Impactos socioambientais da agricultura científica globalizada na microrregião gerais de Balsas no Maranhão”. “O processo iniciado por volta dos anos de 1970 no município de Balsas, nos chama bastante atenção em relação à conjuntura de um dito desenvolvimento que excluiu as comunidades camponesas, os deixando a margem e a mercê dos novos agentes ‘modernizadores’ do território local”, pontuou.

Resultados Obtidos

Vanderson Rodrigues ressalta que o resultado da pesquisa evidencia a perceptividade de que os conflitos socioterritoriais entre camponeses e representantes do agronegócio no município de Balsas, no Maranhão, ocorrem em função do avanço da lavoura capitalista na região. Eles tiveram seu ápice no ano de 2010, quando sete enfrentamentos se sucederam, envolvendo cerca de 900 famílias, em uma área de 10.158 hectares de terra. “Isso é o que ocorre quando o agronegócio, ator econômico e político hegemônico, quase sempre nega a existência do camponês, num exercício exclusivo, impõe suas regras e suprime a diferença, por não a suportar, moldando-a de acordo com suas próprias conveniências e destituindo o camponês de toda sua positividade, ao ponto de sua completa obliteração”, ressaltou.

Segundo o pesquisador, o trabalho comprovou, ainda, que os conflitos continuam a acontecer hoje, de forma explícita ou velada, pois o grande capital formaria um monopólio a seu favor, “desapropriando, desvalorizando e desarticulando as comunidades campesinas, parcialmente organizadas com o auxílio de algumas entidades que atuam em favor de interesses próprios”. Para ele, o Sindicato de Trabalhadores Rurais, a Associação Camponesa e a Comissão Pastoral da Terra lutam, no limite das condições sociais impostas pelo poder hegemônico regional, pela manutenção do território e do modo de vida campesino, bem como pela conquista de novas áreas disponíveis na região.

“Nosso estudo é relevante para o entendimento do atual contexto social e econômico do meio rural do município de Balsas no Maranhão”, avaliou. “Esperamos que a situação analisada e vivenciada pelos camponeses do município se torne minimamente equacionada ou, pelo menos, mitigada”, afirmou. “Para isso ocorrer, é importante o envolvimento de todas as forças políticas e sociais, para que, mesmo de forma utópica, se possa fazer nesse município um ambiente favorável à manutenção, evolução e reprodução das famílias camponesas e do seu modo tradicional de vida”, complementou.

Benefícios

O pesquisador ressaltou que o trabalho foi fundamental para a consolidação e expansão dos estudos sobre a geografia agrária e a questão agrária no Maranhão. “Demos ênfase e abrimos novos caminhos de análise e temática, sobretudo com relação à dinâmica entre duas classes sociais antagônicas – camponeses e sojicultores”, assinalou.

Outro ponto importante foi a produção realizada após cinco anos de pesquisas: oito relatórios de Iniciação Cientifica – IC, cinco artigos científicos, nove artigos apresentados em eventos acadêmico científicos, dez resumos/resenhas e uma monografia de gradação. Sobre a área social, Vanderson Rodrigues disse que a pesquisa englobou e trouxe à tona as resistências, as lutas, flagelos e mazelas dos camponeses, dando-lhes voz e vez frente à luta de classes existente no território balsense. “Isto subsidiou discussões e reuniu inúmeros encontros entre os camponeses para articularem e relatarem suas ações de enfrentamento e busca pela manutenção de seu modo de vida”, afirmou.

Metodologia

Com base no estudo e para alcançar o objetivo geral proposto, Vanderson Rodrigues informou que recorreu ao método materialista histórico e dialético. Segundo ele, isso possibilita analisar como o homem se organiza na produção e reprodução do capital, além do seu caráter histórico de como ele se organiza através dos tempos. “Entendemos que nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido se for focalizado isoladamente, sem conexão com os fenômenos que o cercam, pois todo fenômeno, tomado de qualquer campo da natureza, pode converter-se em um absurdo”, assinalou. “Todo fenômeno só pode ser compreendido e explicado se for examinado em sua conexão indissolúvel com os fenômenos circundantes e condicionado por eles”, sinalizou.

Para complementar o percurso metodológico, o pesquisador realizou estudo de caráter bibliográfico em busca de dados secundários, realizado em livros, periódicos, anais de eventos e projetos, anuários e outros documentos elaborados pelo poder público e pela sociedade civil. Dentre os acervos consultados estão o Portal de Periódicos da CAPES/MEC, a Central de Documentação Dom Tomás Balduíno (CDDTB/CPT Nacional), as bibliotecas da UEMA e da UFMA (em São Luís e Balsas) e a Biblioteca Pública Benedito Leite.

“Realizamos trabalhos técnicos para a elaboração de mapas temáticos, de localização do município e da comunidade camponesa do assentamento Gado Bravinho, além de mapas sobre o os conflitos agrários nas diversas escalas geográficas; confecção de croquis, quadros, tabelas e gráficos com dados e informações diversas a respeito da temática”, informou Vanderson Rodrigues.

Num segundo momento, foram realizados, ainda, três trabalhos de campo. “Compreendemos a empiria como importante ferramenta para conferir maior credibilidade da pesquisa”, relatou. “Nestes trabalhos priorizamos as entrevistas semiestruturadas, visando o levantamento de dados quali-quantitativos sobre os conflitos socioterritoriais que emergem entre os camponeses e sojicultores em razão do avanço do agronegócio no município”, explicou.

“Nas visitas a campo foi possível uma maior aproximação com o público alvo, o que nos proporcionou uma visualização da realidade, bem como das peculiaridades do recorte espacial proposto”, ressaltou. “Além das entrevistas com os camponeses do assentamento Gado Bravinho, realizamos também entrevistas com lideranças de importantes organizações que atuam na defesa dos camponeses e povos tradicionais do município e da Microrregião dos Gerais de Balsas””, prosseguiu. “Entrevistamos ainda, representantes dos produtores de commodities do município, órgãos representantes de classe e órgãos públicos”, concluiu o geógrafo.